Principal
suspeito do crime é o marido da vítima, da mesma idade. Os jovens se casaram
com a permissão das duas famílias, mas não tem validade para a Justiça brasileira.
O
Fantástico contou a história de uma adolescente de uma família cigana da Bahia
que foi morta aos 14 anos. Hyara Flor levou um tiro no pescoço na casa onde
morava em Guaratinga, na Bahia. O principal suspeito do crime é o marido da
vítima, também adolescente de origem cigana e com a mesma idade, de acordo com
a polícia. E a família dela acredita que se trata de vingança, por conta dos
costumes ciganos.
Os
jovens se casaram com a permissão das duas famílias. De acordo com a lei
brasileira, casamentos só são válidos entre pessoas que tenham no mínimo 16
anos. Assim, o casamento de Hyara não tem validade para a Justiça brasileira.
No entanto, ele faz parte da cultura cigana, desde que consentido pelos
familiares.
A
diretora do Centro de Estudos e Discussões Romani, a cigana Maura Piemonte,
explica que o casamento entre jovens não é, nos dias atuais, uma
obrigatoriedade, mas sim uma questão de livre arbítrio.
“Não
é que você promete antes. A gente conversa. Se o adolescente quiser casar, ele
casa, mas nós não obrigamos. A partir dos 14 anos já é uma idade em que ela já
está mocinha, e já pode casar, sim”, argumentou.
Roy
Rogeres Fernandes, ativista cigano, reforça que a cultura cigana vem passando
por mudanças para tentar permitir que as mulheres tenham maior poder de escolha
sobre o próprio futuro.
“Hoje
a gente pode dizer que essas tradições vêm tendo algumas transformações,
algumas modificações para que as comunidades e as mulheres, especialmente,
possam ter as suas decisões”, explicou.
O
bispo da igreja católica de Eunápolis, Dom José Edson de Oliveira, realizou a
cerimônia de casamento de Hyara e o marido, cuja festa durou três dias. Ele não
condenou a prática e disse entender que se trata de um costume dos ciganos.
“A
gente vê hoje a crítica da sociedade porque a sociedade faz o julgamento a
partir da sua ótica. (...) Os pais têm a preocupação que a sua filha possa ser
fiel à sua tradição”, destacou.
O
crime
Hyara
Flor foi morta com um tiro na casa onde vivia com o marido no início da tarde
do dia 6 de julho. Imagens obtidas pelo Fantástico mostram que um dos irmãos
mais novos do adolescente saiu da casa chamando pelo pai. O pai e o tio do
jovem entraram na casa correndo. E instantes depois, o carro de um vizinho,
também cigano, entra na casa e sai para o hospital. Hyara, no entanto, morreu
pouco depois. E três minutos depois, um vizinho vai de carro até a casa, busca
a vítima e tenta levá-la para o hospital. Ela morreu pouco tempo depois.
O
tio do jovem é a única testemunha que disse, em depoimento, ter visto o jovem
com a arma na mão, e afirmou ainda ter visto ela no chão sangrando pelo nariz e
boca. Segundo a polícia, a arma não era registrada e não se sabe quem era o
dono dela. O laudo da perícia diz que o tiro foi feito a no máximo 25
centímetros de distância, e a bala ficou alojada em uma vértebra cervical no
pescoço da jovem.
A
família de Hyara, por sua vez, acredita que o crime foi motivado por vingança:
o pai do jovem teria mandado ele matar a esposa por causa de um relacionamento
extraconjugal da mãe do adolescente com um tio da jovem.
Já a
família do marido de Hyara aparece nas imagens entrando em um carro branco e
saindo em alta velocidade. A polícia rastreou o veículo e viu que eles foram
até cidades do Espírito Santo, e depois desapareceram. Ainda não se sabe se o
tiro foi intencional ou não. Mesmo assim, a polícia pediu a prisão do jovem.
“Para
a gente, com olhares da nossa cultura, a gente não vê isso como motivação. Mas
a cultura cigana é diferente, eles têm outras tradições, eles encontram outras
motivações diferentes das nossas. Então não é impossível que isso tenha
acontecido”, explica Moisés Damasceno, coordenador regional da Polícia Civil da
Bahia.
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