O discurso de Moro na
cerimônia de ingresso ao Podemos teve tom de candidato à Presidência. Nele,
defendeu o legado da Lava Jato e atacou Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) disse nesta quinta-feira (11) que o ex-ministro Sergio Moro,
filiado um dia antes ao Podemos, não sabe o que é ser presidente nem ministro.
O ex-juiz da Lava Jato
comandou o Ministério da Justiça até abril de 2020, quando deixou o governo sob
a alegação de interferência do mandatário no comando da Polícia Federal.
Moro, que sempre disse que
não entraria para a política, é cotado como candidato da chamada "terceira
via" ao Planalto, contra Bolsonaro e o ex-presidente Lula, os dois
primeiros posicionados à frente nas pesquisas.
"Não aprendeu nada, não
aprendeu nada. Um ano e quatro meses ali [no ministério], não sabe o que é ser
presidente nem ser ministro", disse a apoiadores no cercadinho do Palácio
do Alvorada.
"Vocês gostaram do
discurso lido pelo cara ontem? Eu assisti porque foi meu ministro, né. Leu o
discurso, com dois teleprompters lá".
O discurso de Moro na
cerimônia de ingresso ao Podemos teve tom de candidato à Presidência. Nele,
defendeu o legado da Lava Jato e atacou Bolsonaro.
A respeito do chefe do
Executivo, o ex-ministro disse que sofreu boicote do governo e que não teve
apoio para o combate à corrupção.
"Quando vi meu trabalho
boicotado e quando foi quebrada a promessa de que o governo combateria a
corrupção, sem proteger quem quer que seja, continuar como ministro seria
apenas uma farsa", disse Moro.
Nas redes sociais, o
ex-aliado foi chamado por apoiadores do presidente de "traíra". Eles
também resgataram vídeos antigos em que Moro afirmava que não entraria para a
política.
As acusações do ex-ministro
a Bolsonaro levaram à abertura de inquérito na PF.
Na semana passada, o
presidente admitiu ter solicitado trocas no comando da organização, mas disse
que Moro condicionou as mudanças à sua indicação para uma vaga no STF (Supremo
Tribunal Federal). A defesa de Moro nega a alegação.
O ex-juiz também defendeu em
seu discurso na filiação o legado da Lava Jato e atacou Lula, que condenou e
prendeu na operação, interrompendo sua candidatura ao Planalto em 2018.
"Chega de corrupção,
chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha, chega de orçamento
secreto. Chega de querer levar vantagem em tudo e enganar o povo
brasileiro", discursou Moro para um auditório com cerca de 700 pessoas.
O petista ficou preso por
580 dias em Curitiba, a mando de Moro. Foi solto após o STF mudar o
entendimento sobre prisão após segunda instância (só pode ocorrer após o fim
dos recursos).
Neste ano, Moro teve ainda uma dura derrota no Supremo. A Corte, depois de anular as condenações contra Lula nas ações de Curitiba, declarou o ex-juiz parcial na condução do processo.
No Palácio do Planalto,
auxiliares do presidente dizem acreditar que a entrada do ex-ministro na
corrida eleitoral terá impacto na terceira via, mas não veem força política
suficiente para romper a polarização.
Para auxiliares de
Bolsonaro, Moro tem pouco espaço para crescer nas pesquisas. O principal
argumento é que o ex-juiz dificilmente conseguirá construir uma aliança
partidária com congressistas e prefeitos que lhe dê sustentação para avançar na
disputa.
Uma das consequências, dizem
assessores palacianos, é que Moro não deve ter acesso a um tempo de televisão
competitivo.
Bolsonaro teve, na
quarta-feira (10), uma reunião com Valdemar da Costa Neto, presidente do PL. O
dirigente do centrão confirmou horas depois a filiação do presidente.
Valdemar é ex-aliado de
Lula, foi condenado e preso no escândalo do mensalão.
O presidente disse em
entrevista a uma rádio na quarta-feira que estava 99,9% fechado com o partido,
que faltava ajustes em palanques de alguns estados, como São Paulo.
Já hoje, depois de se reunir
com Valdemar, Bolsonaro disse a apoiadores não ver nome em São Paulo para
disputar o governo do estado.
"Quando se fala em São
Paulo, por exemplo, vários estados do Brasil, a dificuldade de escolher
candidato. A gente não vê nome em São Paulo", afirmou a apoiadores no
Alvorada.
O presidente queria lançar
Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) para o Bandeirantes, mas o ministro
resiste à ideia. Ele prefere sair para o Senado.
Dirigentes do centrão também
acreditam que ele tem poucas chances para se lançar a governador.
O PP, outro partido da base
aliada de Bolsonaro no qual ele quase se filiou, defendia uma chapa com o
ex-governador Geraldo Alckmin, para o Bandeirantes, e Tarcísio, para o Senado.
Mas Bolsonaro não quer apoiar o adversário político.
Em manifestação enviada
nesta quinta ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal
Federal), o advogado-geral da União, Bruno Bianco Leal, defendeu a validade do
depoimento prestado por Bolsonaro à Polícia Federal na semana passada.
O presidente foi interrogado
sobre a acusação de interferência política dele na corporação para proteger
parentes e aliados, suspeita levantada por Moro quando deixou o governo.
A defesa do ex-ministro da
Justiça acionou Moraes na segunda (8) por entender que a polícia não observou
um procedimento definido ainda em 2020 pelo ex-ministro Celso de Mello, relator
inicial da apuração no tribunal.
Celso concedeu aos advogados
de Moro o direito a participar da oitiva do chefe do Executivo e a fazer
perguntas ao interrogado.
Moraes pediu ao
procurador-geral da República, Augusto Aras, que se manifeste sobre a
controvérsia. Foi Aras quem pediu a abertura do inquérito.
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