Apesar do cenário,
pesquisadores defendem avanço na imunização.
Com o avanço da imunização e
um contingente de mais de 100 milhões de pessoas totalmente vacinadas contra a
covid-19, o Brasil registrou ontem (13) a menor média móvel de vítimas da
doença desde abril de 2020. O patamar é resultado de uma queda contínua
registrada desde o fim do primeiro semestre deste ano. Em 1º de julho, a média
móvel era de mais de 1,5 mil mortes por dia, indicador que chegou ontem a 316
por dia, segundo dados do painel Monitora Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz). No pior dia da pandemia, em 12
de abril de 2021, o indicador chegou a 3.123 vítimas diárias.
Apesar do cenário de
melhora, pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil defendem que ainda é preciso
avançar mais na vacinação e chegar a 70% da população com esquema completo de
vacinação antes de flexibilizar as medidas de prevenção de forma mais
contundente.
O epidemiologista e
pesquisador em saúde pública da Fiocruz Raphael Guimarães destaca que o
progresso da cobertura vacinal é o principal responsável pela tendência
consistente de queda nas internações e óbitos observada no segundo semestre
deste ano, mas alerta que a circulação de pessoas nas ruas já retornou ao nível
pré-pandemia.
"Analisando os números
de forma mais fria, diria que é um bom momento, talvez um dos melhores que a
gente já atravessou", disse, ressaltando porém que o alívio não prejudique
as medidas de prevenção, como usar máscara, evitar aglomerações, higienizar as
mãos e se vacinar.
"Falar em um bom
cenário traz sempre um pouco de esperança para as pessoas, mas é preciso que
elas compreendam que um cenário melhor não significa que a pandemia está
vencida. Elas podem se sentir um pouco mais aliviadas porque estamos vendo
progressivamente a melhora na situação sanitária, mas não significa que é o
momento de relaxar geral. É ter um alívio com responsabilidade".
Uma flexibilização mais
segura das medidas restritivas requer uma cobertura vacinal que alcance ao
menos 70% a 80% da população, na opinião do pesquisador da Fiocruz.
Segundo o painel de dados da
fundação, o Brasil tem hoje 47,2% de sua população totalmente vacinada e 70,31%
que tomou ao menos a primeira dose. Diante disso, ele reforça a importância de
completar o esquema vacinal com as duas doses e ainda a dose de reforço para os
casos em que ela for prevista. O epidemiologista acrescenta que a recomendação
da vacinação independe de a pessoa ter tido covid-19 previamente. "Não
existe nenhum estudo que diga de forma contundente que ter covid-19 no passado
garanta imunidade permanente. Tanto é que temos muitos e muitos casos de
notificação de pessoas que tiveram covid-19 mais de uma vez".
Apesar de o principal
impacto da vacinação ser nos óbitos e internações, o epidemiologista acrescenta
que as vacinas estão retardando a circulação do vírus. A média móvel de novos
casos de covid-19 também está em queda progressiva desde junho, o que Guimarães
relaciona à vacinação dos mais jovens, que são a população que mais circula e
contribui para a disseminação do vírus.
Feriado
Guimarães acredita que,
devido ao feriado prolongado de 12 de outubro, pode haver uma oscilação da
média móvel para cima nos próximos dias, o que não compromete a avaliação de
que a tendência é de queda. "Sempre que tem feriado, a gente acaba tendo
um pouco de defasagem na notificação. A gente espera que na média móvel a gente
possa ter um aumento discreto nos próximos dois dias, mas isso não vai impactar
na tendência".
O vice-presidente da
Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, concorda que o feriado
pode ter contribuído para acentuar a queda de óbitos nos últimos dias.
"Por causa do feriado, pode demorar a acontecer o registro de casos e dos
óbitos, e isso pode impactar um pouco para baixo, mas seria um desvio padrão
pequeno em relação ao que a gente está vendo na série toda", minimiza, lembrando
que o fim do inverno e o início da primavera também ajudam na redução de
doenças de transmissão respiratória.
Chebabo disse não ter
dúvidas de que o Brasil vive hoje o momento menos grave da pandemia da covid-19
desde que o vírus se espalhou e começou a causar um grande número de casos no
país, em abril de 2020. Ele acrescenta que também não há dúvidas de que a
vacinação é a principal explicação para a melhora.
"Se não fossem as
vacinas, a gente ainda teria uma população suscetível muito grande no país
podendo se infectar. A vacina que fez essa mudança de transformar grande parte
dessas pessoas que eram suscetíveis em pessoas menos suscetíveis", disse.
Ele destaca que a proteção conferida pelos imunizantes é mais potente e
duradoura que a da própria infecção natural, o que justifica a recomendação de
que mesmo as pessoas que já tiveram covid-19 devem se vacinar.
O infectologista reforça que
o patamar de imunização necessário para medidas de flexibilização, como a
liberação de máscara em alguns ambientes fechados, é de 70% a 80% da população
totalmente vacinada. "Quando estamos falando de esquema completo, é a
terceira dose do idoso também", esclarece. "Aí a gente vai ter uma
situação mais confortável e um menor risco de ter recaídas, mesmo que sejam pontuais
em alguns estados e locais".
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