Às vésperas de completar uma
semana do rompimento da barragem da Mina do Feijão, da Vale, em Brumadinho
(MG), a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros divulgaram no início da noite desta
quinta-feira (31/1) uma nova contagem de mortos, desaparecidos, pessoas
resgatadas e corpos identificados na região.
O total de mortos chegou a
110. Deste número, 71 corpos já foram identificados por peritos criminais que
atuam no município mineiro. Foram localizadas 394 pessoas, tendo sido 192
resgatadas com vida na área de impacto por onde escorreram os rejeitos tóxicos
da barragem. Mas 238 pessoas permanecem desaparecidas. Ainda segundo a Defesa
Civil, há 108 desabrigados em Brumadinho.
Desde sábado (28), os
socorristas não localizaram mais sobreviventes. A Polícia Civil está coletando
material genético de familiares das pessoas desaparecidas para ajudar na
identificação dos corpos encontrados pelas equipes de resgate.
Nesta quinta, as tropas
enviadas ao Brasil pelo governo israelense deixaram o país. Cerca de 130
soldados e oficiais da Força de Defesa de Israel, munidos de equipamento de
ponta, desembarcaram no Brasil entre o último domingo (27) e segunda (28). Há
notícias de que os estrangeiros anteciparam a saída do país após divergências
com o comando brasileiro da operação de resgate, que chegou a declarar que os
dispositivos de Israel não eram os mais adequados para o tipo de trabalho
necessário em Brumadinho.
Pela manhã, foi realizado
culto ecumênico em frente a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Brumadinho
(foto abaixo). O objetivo dos religiosos que participaram, sob coordenação da
Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), foi levar conforto espiritual às famílias
que mantêm a esperança de encontrar seus parentes desaparecidos.
Vale anuncia medidas emergenciais
Dirigentes da Vale
informaram, também nesta quinta, que a sirene de alerta não tocou na cidade
porque a lama desceu muito rápido da barragem após o rompimento. Com isso, o
equipamento que deveria avisar a funcionários da mineradora e moradores da região
para irem imediatamente a um local seguro acabou tragado pelos rejeitos tóxicos
que arrastaram, em enxurrada, pessoas, animais, árvores e carros que estavam
pelo caminho.
A companhia anunciou medidas
em andamento para o atendimento à comunidade afetada. Segundo a diretoria da
Vale, as pessoas estão sendo orientadas a abrirem contas no Banco do Brasil
para que a empresa deposite ajuda de custo imediata no valor de R$ 100 mil por
família: o cadastramento dos beneficiários teve início nesta quinta. A companhia
disse que investirá R$ 800 milhões no município, nos próximos dois anos, para
compensar perdas de arrecadação da cidade em decorrência da tragédia.
A empresa também informou já
ter instalado uma barreira de contenção dos rejeitos tóxicos a partir de Pará
de Minas (MG) e que vai implantar mais duas, além de diques de contenção. A
Vale disse já ter colocado em funcionamento um hospital de campanha para acolher
animais resgatados. Por fim, a companhia destacou que, ainda nessa quinta,
equipe do hospital paulista Albert Einstein embarca para Brumadinho a fim de
auxiliar os profissionais da Vale no atendimento psicossocial à comunidade.
Um morador da cidade chegou
a interromper o anúncio de representante da empresa, durante entrevista
coletiva em Brumadinho. Revoltado, o homem disse que a Vale deveria ter tomado
parte dessas providências antes de pessoas morrerem em decorrência do estouro
da barragem.
Impacto ambiental
A Fundação SOS Mata
Atlântica também deu início hoje a uma expedição pelo rio Paraopeba para
entender os impactos ambientais do mar de lama da tragédia, que impactou uma
área total de 252 hectares no município mineiro, além de verificar seu potencial
de alcance a outras regiões.
Nos próximos dias, a equipe
de água da organização, em parceria com o laboratório de Poluição Hidrica da
Universidade de São Caetano do Sul, de São Paulo, vai analisar a qualidade de
água do Paraopeba por 356km, de Brumadinho à Hidroelétrica Retiro Baixo e o
reservatório de Três Marias, em Felixlândia (MG).
Segundo as autoridades
mineiras, o abastecimento da área afetada pelo rompimento da unidade da Vale
não está comprometido até o momento. Contudo, a água do Rio Paraopeba oferece
risco às saúdes humana e animal se consumida diretamente. A recomendação é para
os moradores manterem 100m de distância das margens. A qualidade da água tem
sido monitorada por equipes dos governos federal, estadual e municipal.
Tragédia
A barragem mantida pela Vale
no Córrego do Feijão rompeu-se no início da tarde de sexta-feira (25/1) e,
desde então, equipes trabalham para encontrar as vítimas da tragédia. O
vazamento de lama fez com que uma outra barragem da empresa transbordasse. O restaurante
da companhia foi soterrado, assim como o prédio administrativo da mineradora: e
as buscas têm se concentrado nas áreas onde funcionavam essas estruturas.
A lama se espalhou pela
cidade, e moradores precisaram deixar suas casas. Equipes de bombeiros e da
Defesa Civil foram mobilizadas para a área e estão em busca de vítimas. Tanto o
governo federal quanto o local (do município e do estado) montaram gabinetes de
crise e deslocaram autoridades para a região.
Segundo o porta-voz do Corpo
de Bombeiros, apesar de cada dia mais remota, ainda existe a possibilidade de
os socorristas encontrarem pessoas com vida. Eles têm usado cajados e se
arrastado pela lama em busca de sobreviventes e corpos. A estimativa é que os
trabalhos durem ao menos até julho. Os bombeiros explicam que o serviço está
sendo feito em etapas.
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