Uma análise de como ficou o cenário politico após uma verdadeira falta de organização. 


A recente decisão da Justiça Eleitoral de indeferir as candidaturas e cassar os diplomas dos vereadores eleitos pela Federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV), representando a chapa proporcional em Delmiro Gouveia, escancara mais do que uma falha técnica: revela um enredo de ego, soberba e desorganização dentro da própria oposição.


O principal responsável por esse colapso? Um nome já conhecido da população: o ex-prefeito Eraldo Joaquim Cordeiro, o ‘Padre Eraldo’. Um líder que, mesmo ciente da forte rejeição popular e de sua condição jurídica frágil, optou por insistir em uma candidatura fadada ao fracasso — e pior, arrastou consigo todo um grupo político.


Vamos aos fatos: há um ano da eleição, ‘Padre’ Eraldo se filiou ao PDT, partido do vice-governador Ronaldo Lessa. Meses depois, abandonou o barco e se transferiu para o PT a convite da turma de Paulão, deputado federal, desprezando a confiança daqueles que ainda acreditavam numa união política de todos da oposição. Àquela altura, o plano era simples: ‘Padre Eraldo’ e Renato se revezariam entre cabeça de chapa e vice. Mas o que se viu foi um movimento solitário e autoritário do ex-prefeito, que ignorou a realidade jurídica: ele não podia ser candidato. As condenações por compra de votos — escândalo envolvendo seu antigo aliado, o então vereador Geraldo Xavier, com flagrantes, colinhas e santinhos — tornavam sua situação insustentável.


Mesmo assim, ‘Padre Eraldo’ insistiu. E essa insistência teve um custo alto: pressionou o nome de Renato Torres, que, diante da força simbólica de Eraldo na oposição, recuou e optou por disputar uma vaga na Câmara. Um erro estratégico. Se houvesse humildade e bom senso, ‘Padre Eraldo’ teria reconhecido a inviabilidade de sua candidatura e apoiado abertamente o nome de Renato ou de outro representante.


O resultado dessa desorganização foi uma vitória esmagadora de Ziane Costa, com mais de 24 mil votos, enquanto a oposição nao chegou nem se quer a 5 mil votos. Méritos não apenas de sua gestão, mas de sua habilidade em usar as redes sociais para dialogar com a juventude e reforçar seu compromisso administrativo. Enquanto isso, a oposição se encolheu, vítima da própria imprudência.


Hoje, Renato Torres e Ivan do Canal enfrentam as consequências de ter confiado em alguém que nunca deveria ter sido aposta. E ‘Padre Eraldo’ agora afastado de todos os aliados, só deverá aparecer novamente no cenário político no próximo ciclo eleitoral — como um típico “candidato Copa do Mundo”, que só surge de quatro em quatro anos.


Durante sua gestão, ‘Padre Eraldo’ terceirizou a prefeitura, entregando o comando da cidade a forasteiros que hoje desfilam em carrões na capital e em outras cidades de Alagoas, mas deixaram um legado de abandono. Ele mesmo, que hoje mora na zona rural, precisa pedir carona para vir à cidade que um dia administrou.


E há ainda um erro político crucial que não pode ser esquecido: em 2020, durante uma inauguração, enquanto tinha a chance de se consolidar e neutralizar adversários como Lula Cabeleira e a família Costa, ‘Padre Eraldo’ optou por elogiá-los publicamente, afirmando que sua gestão era uma referência. Um erro estratégico que custou muito caro. Na política, quando se tem a chance de fazer o gol, não se toca para o lado, nem se chuta para escanteio.


A história recente da oposição em Delmiro Gouveia é, portanto, um manual de como a vaidade e a falta de articulação podem destruir um projeto político inteiro. E a lição está dada — para quem quiser aprender.


Por Ítalo Timóteo