Especialista em Neuropsicologia e Análise do Comportamento, psicóloga destaca a importância da intervenção precoce, do acolhimento às famílias e da preparação das escolas.


Com 14 anos de atuação na Psicologia e uma carreira dedicada à Análise do Comportamento e Neuropsicologia, a psicóloga Juliana Kelma, fundadora da clínica Motiva – Centro de Especialidades Infantil, fala sobre os desafios e avanços no cuidado com crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Alto Sertão alagoano. Em entrevista exclusiva, ela compartilha sua experiência, as dificuldades do diagnóstico e tratamento, e a importância de uma rede de apoio que inclua a família e a escola.

“Receber o diagnóstico não é fácil, mas a aceitação é o primeiro passo para um prognóstico melhor. A intervenção precoce transforma vidas”, afirma Juliana.

Juliana relembra o início de sua trajetória com o TEA: “Minha primeira paciente foi uma criança que não subia escadas. Na época, mal se falava de autismo. Comecei a estudar, fui a Campina Grande, São Paulo... me especializei. E nunca mais parei.” Hoje, a clínica atende crianças com diferentes níveis de suporte, oferecendo terapias multidisciplinares como psicologia, fonoaudiologia, ABA, nutrição e psicopedagogia.

Diagnóstico precoce e sinais de alerta

Segundo a psicóloga, quanto mais cedo forem observados os sinais de atraso no desenvolvimento, maiores as chances de promover qualidade de vida. Entre 1 ano e meio e 2 anos, espera-se que a criança já esteja falando palavras variadas. A falta de interação, ausência de gestos, e comportamentos repetitivos são sinais de alerta.

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é clínico, mas deve ser precedido por uma avaliação multidisciplinar. Ao perceberem atrasos no desenvolvimento, como na fala ou na locomoção, o ideal é que os pais procurem primeiro os especialistas responsáveis por cada área afetada. Isso ajuda a descartar outras causas e torna o processo diagnóstico mais preciso e eficiente.

Na clínica Motiva, cada criança tem um plano terapêutico individualizado, e os horários são organizados para que os profissionais estejam alinhados nos objetivos de desenvolvimento. Algumas crianças frequentam o espaço diariamente, o que exige uma estrutura que favoreça não só o atendimento técnico, mas também o bem-estar familiar.

A clínica oferece ainda um ambiente acolhedor para os pais: enquanto os filhos são atendidos, eles podem trabalhar, resolver pendências ou simplesmente descansar. A ideia é proporcionar um espaço que também valorize a rotina da família, entendendo que cuidar da criança inclui cuidar de quem cuida dela.

A dor silenciosa das famílias

O diagnóstico do autismo costuma impactar profundamente a vida familiar. Juliana destaca que muitas famílias vivem um luto não declarado, marcado pela expectativa de que o filho se desenvolvesse de forma "típica". A ausência de rede de apoio, as dificuldades financeiras e o medo do futuro são questões constantes.

Por isso, a psicóloga reforça a importância de os pais também receberem acompanhamento psicológico e buscarem redes de apoio. Participar de grupos terapêuticos, manter hobbies e se permitir viver além do diagnóstico são atitudes que ajudam a preservar a saúde mental e emocional da família.

Inclusão vai além da presença

Na área da educação, Juliana Kelma ressalta que inclusão não é apenas colocar a criança na sala de aula, mas garantir que ela realmente aprenda e seja respeitada em suas particularidades. Para isso, é essencial que as atividades sejam adaptadas e que o mediador escolar seja capacitado e mantenha vínculo com o aluno.

Ela reforça que trocas frequentes de profissionais e a falta de planejamento pedagógico antes do início do ano letivo prejudicam a construção desse vínculo e comprometem a qualidade da inclusão. Conhecer o perfil da criança com antecedência, conversar com a família e preparar a equipe escolar são etapas fundamentais.

Juliana também alerta para o risco do capacitismo: tratar o aluno com autismo como alguém que “pode tudo” ou que não precisa seguir regras também é uma forma de exclusão. Inclusão de verdade respeita limites, potencializa habilidades e garante oportunidades reais de aprendizagem.

Uma mensagem para as famílias

“A realidade mudou. Hoje temos acesso a profissionais especializados aqui mesmo na região. Quanto mais cedo vier a intervenção, maiores são as chances de uma vida funcional e com qualidade para a criança. Pesquise, selecione bons profissionais e, principalmente, cuide de você também”, afirma a psicológa.

A clínica Motiva está localizada na Avenida Mascarenhas de Moraes, nº 150, bairro Eldorado, em Delmiro Gouveia. O espaço é adaptado, acolhedor e estruturado para atender crianças com diferentes níveis de suporte até a pré-adolescência.

Por: Thyara Ravelly (@revisoes_ravelly) – colaboradora do it.com.br