Substância paralisa o
sistema nervoso e causa a morte rápida de animais e seres humanos quando usado
de forma errada.
O aumento de casos de
envenenamento em humanos e animais em Alagoas acendeu um sinal de alerta das
forças de segurança do Estado. Os exames, realizados no Laboratório Forense do
Instituto de Criminalística de Maceió (ICM), comprovaram o uso inadequado e criminoso
da substância agrotóxica terbufós na forma granulada.
Apesar de ter a
comercialização proibida no Brasil para uso doméstico, o forte veneno, usado
ilegalmente como raticida, pode ser encontrado facilmente em várias lojas e
feiras em Alagoas. A Polícia Científica alerta: a venda e compra desse tipo de
produto, popularmente conhecido como chumbinho, é crime, e deve ser denunciado
para a Vigilância Sanitária ou para a delegacia mais próxima.
Caso de grande repercussão
teve morte de criança
Um dos casos mais recentes
ocorreu em maio deste ano, quando o menino Anthony Levy, de 4 anos, foi morto
pelo próprio pai com uma dose de chumbinho misturado ao alimento da criança. O
Laboratório Forense do ICM já havia concluído que Anthony fora envenenado com
terbufós e na sequência das investigações, emitiu laudos dos exames realizados
em vestígios apreendidos pela Polícia Civil.
O perito criminal Ken Ichi
Namba, explicou que o primeiro vestígio analisado foi um pequeno frasco
plástico incolor, sem conteúdo interno aparente, coletado por funcionária da
creche, como se verifica em vídeo amplamente divulgado. O segundo vestígio foi
um conjunto de pequenos frascos, semelhantes ao primeiro vestígio, contendo
material granular de cor cinza escura, apreendido no comércio.
Apesar do grande desafio
apresentado pelo primeiro vestígio que não apresentava conteúdo interno
aparente, os peritos criminais altamente qualificados da área de Química
Forense tiveram êxito em identificar resíduos de terbufós. O exame realizado no
segundo vestígio também identificou a mesma substância, igual ao produto
químico encontrado no conteúdo estomacal da vítima.
Perito explica o uso do
raticida
O perito Ken Ichi Namba, que
também é farmacêutico, esclareceu que esse tipo de substância tem o uso permitido
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para aplicação no solo como
nematicida e inseticida sistêmico em lavouras de cana-de-açúcar, amendoim,
feijão, entre outras. Da classe dos organofosforados ele age paralisando o
sistema nervoso, causando a morte rápida das pragas e quando usado de forma
errada pode matar também seres humanos e animais.
Por ser extremamente tóxico
a quaisquer animais, o terbufós, é utilizado ilegalmente como rodenticida
(raticida). Porém, o perito afirmou que ele não é um raticida eficaz, pois os
roedores são animais muito inteligentes e, ao primeiro sinal de morte por um
consumo de alimento, eles deixam de consumi-lo ou mudam a colônia para outro local.
Mas como aparecem alguns ratos mortos logo após a aplicação das iscas com
chumbinho, as pessoas têm a falsa impressão de que o agrotóxico é eficaz.
Isto alimenta o comércio
clandestino deste pesticida que tem o uso proibido como rodenticida (raticida)
ou qualquer outro uso doméstico. Alertando para os perigos do contato com o
agrotóxico, o perito explicou que a intoxicação pode ocorrer por via oral
(ingestão), dérmica (contato com a pele) e respiratória (inalação do pó).
“Os sintomas de intoxicação aparecem
geralmente em até 1 hora após a ingestão e incluem náuseas, vômitos, cólicas
abdominais, diarreia, incontinência fecal e urinária, salivação excessiva,
aumento da secreção pulmonar, corrimento nasal excessivo e presença de espuma
na boca. A pessoa pode ter ainda sudorese, lacrimejamento excessivo, visão
embaçada, contração da pupila, cefaleia, fala arrastada, confusão mental,
tremores, convulsões, taquicardia, dificuldade respiratória, coma e morte por
insuficiência respiratória”, afirmou Ken.
Produto vendido ilegalmente
em Alagoas é desviado
Segundo a Polícia
Científica, o chumbinho comercializado ilegalmente em Alagoas é criminosamente
desviado de pesticidas destinados principalmente às lavouras de cana-de-açúcar.
Devido à relativa facilidade de aquisição ilegal, o agrotóxico está envolvido
em diversos casos de envenenamentos acidentais de crianças e animais
domésticos, envenenamentos intencionais de animais, homicídios e suicídios em
Alagoas.
“O chumbinho, por ser um
produto clandestino e sem registro, não possui rótulo com orientações de
manuseio e segurança, informações médicas, telefones de emergência e, o que é
mais grave, não tem a descrição do agente ativo bem como antídotos em caso de
envenenamento, o que é fundamental para orientação do profissional de saúde
nesse momento”, alertou o perito criminal.
Fonte: Aarão José – Polícia Científica Alagoas.
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