Texto segue para sanção
presidencial. Durante tramitação, Congresso incluiu medida que libera R$ 15
bilhões em gastos para o governo federal.
O Senado aprovou nesta
quarta-feira (8) o projeto que determina a volta da cobrança do seguro para
cobrir indenizações a vítimas de acidentes de trânsito, conhecido anteriormente
como DPVAT.
Foram 41 votos favoráveis ao
texto, o mínimo necessário. A proposta segue para a sanção do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) ) e, após esta etapa, vira lei.
O pagamento, que acontecerá
uma vez ao ano, será obrigatório para os donos de carros e motos. O valor da
taxa e a data do primeiro pagamento ainda não foram definidos, mas o líder do
governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que a equipe econômica estima
uma tarifa entre R$ 50 e R$ 60, a partir de 2025.
A cobrança do DPVAT foi
extinta durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). A última vez que
os donos de veículos pagaram o seguro foi em 2020. Desde 2021, a gestão do
saldo remanescente, de R$ 4,2 bilhões, passou da seguradora Líder para a Caixa
Econômica Federal.
De acordo com a Caixa, o
recurso só foi suficente para cobrir acidentes que aconteceram até 14 de
novembro de 2023. Os pagamentos de indenizações referentes a acidentes que
ocorreram depois dessa data estão suspensos pois o banco aguardava a aprovação
do projeto pelo Congresso.
O pedido de assistência pode
ser feito nas agências da Caixa e também pelo aplicativo do DPVAT.
Como vai funcionar
O seguro passará a se chamar
Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidente de Trânsito (SPVAT) e
funcionará da seguinte maneira:
o pagamento será obrigatório
para quem tiver carro ou moto. Um fundo comum é criado para reservar as
contribuições e os valores serão usados para cobrir indenizações por morte ou
invalidez, pagas às pessoas que sofrerem acidentes.
o dinheiro também será usado
no reembolso de despesas com tratamento médico, fisioterapia e próteses se
esses serviços não estiverem disponíveis, via SUS, no município.
o seguro cobrirá despesas
funerárias e reabilitação profissional de pessoas com invalidez. Não poderá
receber auxílio quem já for assistido por seguro privado e plano de saúde;
os valores, tanto da taxa do
seguro quanto das indenizações, ainda serão definidos. O pagamento do SPVAT
pode mudar de acordo com o tipo de veículo;
o motorista que não pagar o
seguro obrigatório estará sujeito a multa por infração grave. O presidente Lula
pode vetar esse ponto;
terá direito à indenização
quem sofreu acidente ou companheiro e herdeiros da vítima, em caso de morte.
Mesmo que os veículos envolvidos no acidente estejam irregulares – ou seja,
caso os donos não tenham pagado o seguro – as vítimas terão acesso aos
recursos;
o pagamento da indenização
deve ocorrer em um prazo de 30 dias;
o licenciamento do veículo
só será concedido a partir do pagamento do SPVAT, assim como a transferência de
proprietário e a baixa do registro do carro;
a Caixa vai cobrar o seguro,
administrar o fundo e analisar os pedidos de indenização. O banco poderá
contratar empresas terceirizadas para auxiliar na operação. Os recursos para
pagar as empresas sairão diretamente do fundo;
os estados podem fechar
convênio com a Caixa para que o pagamento do SPVAT seja feito junto com o
licenciamento ou com o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
(IPVA);
os estados que efetuarem a
cobrança poderão receber até 1% do montante arrecadado;
estados e municípios que
oferecerem transporte público coletivo ainda vão receber de 35% a 40% do
dinheiro arrecadado.
segundo a Caixa, as
indenizações se referem a acidentes com diversos tipos de veículos. São
exemplos: automóveis particulares, táxis, carros de aluguel, ônibus,
micro-ônibus e lotação com ou sem cobrança de frete, motocicletas, motonetas,
caminhões, caminhonetas tipo "pick-up" de até 1.500 Kg de carga,
máquinas de terraplanagem.
'Jabuti'
Parlamentares incluíram um
"jabuti" — no jargão do Congresso, um assunto estranho ao tema
original da proposta inserido durante a tramitação — com objetivo de adiantar
as despesas que o governo fará neste ano.
A mudança será feita na lei
do novo regime fiscal, que vale desde 2023. O dispositivo antecipa a data em
que o governo, caso registre um crescimento da receita em comparação ao ano
passado, pode abrir crédito suplementar (extra).
A medida vai liberar mais de
R$ 15 bilhões em gastos. Os recursos devem ser usados, por exemplo, para
desfazer bloqueios no orçamento e garantir investimentos do novo Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). O interesse da cúpula do Congresso é,
principalmente, na retomada de R$ 3,6 bilhões em emendas de comissão, vetadas
pelo presidente Lula, com esses recursos.
Veja os tipos de emendas
parlamentares e a verba prevista para cada uma em 2024
Emendas são gastos que
deputados e senadores fazem em seus redutos eleitorais, na forma de obras e
projetos. Neste caso, das indicações feitas por comissões temáticas do
parlamento, o governo não é obrigado a executar. Porém, as emendas servem de
moeda de troca para que o Executivo viabilize projetos de seu interesse no
Congresso.
O governo teve dificuldade
para aprovar o texto principal, que passou com a quantidade limite de votos
exigidos para a aprovação, 41. A análise da proposta na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) foi marcada inicialmente no dia 24 de abril e veio
sendo adiada, tanto no colegiado quanto no plenário, desde então.
A oposição discorda do
projeto que, na prática, cria uma nova cobrança para o contribuinte. Líderes
oposicionistas tentaram, durante a votação desta quarta, excluir da proposta a
folga de R$ 15 bilhões no orçamento, mas foram derrotados.
Parlamentares contrários à
volta do DPVAT também queriam retirar a obrigatoriedade do pagamento do seguro
ou ao menos não condicionar o pagamento da taxa à transferência e licenciamento
do veículo. Porém, todos os destaques — sugestões de mudança no texto — foram
rejeitados pela maioria dos senadores.
O líder da oposição no
Senado, Rogério Marinho (PL-RN), classificou o "jabuti" incluído no
texto como um "contrabando".
"A história do DPVAT
não é uma boa história, mas, independente do fato de estarmos criando um novo
imposto, o que se poderia até discutir, o problema maior desse projeto é o
enorme 'jabuti' que ele abriga. Quando se coloca uma mudança, uma clara mudança
no arcabouço fiscal como forma de 'jabuti', nós estamos desacreditando o Brasil
diante dos olhos de investidores. É insegurança jurídica que se cria",
protestou Marinho.
Davi Alcolumbre (União-AP)
defendeu a alteração da regra fiscal para garantir acordo do valor das emendas.
"Reconhecendo a
importância desse ajuste que está sendo feito no arcabouço fiscal para
equilibrar as contas do Estado brasileiro, e partindo da premissa da construção
política das duas Casas, do Senado e da Câmara dos Deputados, em relação à
sessão do Congresso Nacional que vai se realizar no dia de amanhã, para cumprir
o compromisso com a Câmara dos Deputados, o União Brasil no Senado vota
'sim'", disse ao orientar a bancada do partido.
Fonte: G1
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