Contratos que resultam de
licitações fraudadas por quadrilha somam mais de R$ 200 milhões. Segundo
investigação, empresas forjavam competição em licitações para contratar mão de
obra terceirizada.
O Ministério Público de São
Paulo deflagrou, na manhã desta terça-feira (16), uma nova operação para
desarticular um grupo criminoso associado à facção Primeiro Comando da Capital
(PCC) suspeito de fraudar licitações em todo o estado.
Três vereadores de
diferentes cidades paulistas (veja quem são) e mais 10 pessoas foram presos.
A suspeita é a de que os
parlamentarem recebiam propina para favorecer as empresas do grupo nos
contratos de prestação de serviço de limpeza e vigilância nas câmaras
municipais.
Segundo o MP, os vereadores
ficarão presos por cinco dias pra preservar as investigações, mas o prazo
poderá ser ampliado.
Os vereadores presos são:
• Ricardo Queixão (PSD), de Cubatão;
• Flavio Batista de Souza (Podemos), de Ferraz de Vasconcelos;
• Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel.
Como funcionava o esquema
De acordo com o MP quadrilha
era ligada ao PCC e tinha várias empresas. O grupo forjava concorrência para
vencer licitações e firmar contratos com diferentes prefeituras e câmaras
municipais para contratação de mão de obra terceirizada.
A atuação deles no sistema
tinha apoio e participação de agentes públicos, dentre eles, vereadores.
Os contratos eram na área de
serviços de limpeza e postos de fiscalização, como de vigilância em alguns
prédios públicos, e somam mais de R$ 200 milhões nos últimos anos.
"As empresas
investigadas ou estão associadas a integrantes do PCC ou em nome de laranjas.
Funcionários de algumas dessas empresas concorriam e simulavam alguma
competição em licitações de câmaras e prefeituras e também do estado de
SP", explicou o promotor Yuri Fisberg
Só na região da Baixada
Santista, por exemplo, foram três prisões. Além do vereador Ricardo Queixão, de
Cubatão, foi preso o advogado Aureo Tupinamba, que já atuou na defesa do
traficante de drogas André do Rap, apontado como um dos chefes do PCC e
condenado a 25 anos de prisão por tráfico internacional. Na região, também foi
presa a servidora pública Fabiana de Abreu Silva.
Além dos 15 mandados de
prisão temporária, a 5ª Vara Criminal de Guarulhos expediu mandados de busca e
apreensão em 42 endereços. O material apreendido foi levado à sede do MP na
capital.
A operação é feita pelo
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério
Público de São Paulo, e pela Polícia Militar.
O que foi apreendido:
• 4 armas;
• 22 celulares;
• 22 notebooks;
• R$ 3,5 milhões em cheque;
• R$ 600 mil em espécie e 8 mil dólares.
O que dizem os envolvidos
A defesa do vereador de
Cubatão, Ricardo Queixão (PSD), disse que vai pedir a revogação da prisão
temporária e que ele está como averiguado, e não como suspeito.
O g1 entrou em contato com
assessores dos vereadores Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel, e de Flavio
Batista de Souza (Podemos), de Ferraz de Vasconcelos, mas não recebeu retorno
até a última atualização desta reportagem.
A Câmara Municipal de Santa
Isabel e a Prefeitura de Ferraz disseram que estão colaborando com as
investigações.
Municípios com contratos sob
análise
Guarulhos, São Paulo, Ferraz
de Vasconcelos, Cubatão, Arujá, Santa Isabel, Poá, Jaguariúna, Guarujá,
Sorocaba, Buri, Itatiba e outros municípios têm contratos sob análise.
Também há um contrato com o
governo de SP que está em investigação.
Segundo os promotores, havia
simulação de concorrência com empresas parceiras ou de um mesmo grupo
econômico. Também há evidências de corrupção de agentes públicos e políticos
(secretários, procuradores, presidentes de Câmara de Vereadores, pregoeiros
etc.) e diversos outros crimes – como fraudes documentais e lavagem de
dinheiro.
"Atuavam não só com
empresas deles, mas com empresas chamadas parceiras. Em todas essas prefeituras
havia indicativo de corrupção. Em algumas existia um conluio, um cartel entre
as empresas", explicou o promotor Yuri Fisberg.
De acordo com o MP, o
esquema tinha três núcleos bem distintos: "Empresários e funcionários das
empresas, com uma liderança vinculada à facção criminosa. Os advogados que
atuavam para essas organizações (empresas) e os agentes políticos, que
facilitavam a infiltração por meio de pagamento de propina", completou
Fisberg.
O que diz o governador
O governador Tarcísio de
Freitas (Republicanos) comentou brevemente a operação, na manhã desta
terça-feira (16), durante o leilão da concessão rodoviária do Lote Litoral
Paulista, na sede da B3.
"O crime que está ficando cada vez mais ousado, se infiltrando no poder político, lavando dinheiro cada vez mais e ficando cada vez mais poderoso, é um grande risco para o Brasil e para o nosso estado. É mais uma operação. Acontecerão outras e esse combate ao crime organizado não vai cessar, doa a quem doer, nós vamos combater", afirmou.
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