Considerados
'braços armados' da milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste, o paramilitar
Laerte Silva de Lima e a mulher foram infiltrados no PSOL para monitorar os
passos de Marielle Franco, segundo Ronnie Lessa. Os dois estão presos.
Em
sua delação, Ronnie Lessa disse que o miliciano Laerte Silva de Lima, que se
filiou ao PSOL em 2016 para monitorar os passos de Marielle Franco, a mando de
Domingos e Chiquinho Brazão, pode ter "enfeitado o pavão" e levado os
irmãos a dimensionarem mal as ações políticas da parlamentar.
“Nesse
momento, ponderou-se a possibilidade de que este poderia ter sobrevalorizado
ou, até mesmo, inventado informações para prestar contas de sua atuação como
infiltrado", diz o relatório da PF.
O
relatório indica que a criação dessa animosidade explicaria, por exemplo, a
reação fora do comum que Chiquinho teve contra um assessor de Marielle depois
que a vereadora se opôs a um projeto de lei dele na Câmara do Rio.
O
projeto era o 174 de maio de 2017, sobre a flexibilização de regras de
regularização fundiária na Zona Oeste. Ele mirava especificamente áreas de
interesse da família Brazão.
Na
época, toda a bancada do Psol votou contra o projeto, além de dois vereadores
de outros partidos.
O
assessor de Marielle relatou à polícia que depois da votação Chiquinho mostrou
uma irritação fora do comum, que nunca tinha sido vista por ele e que teria
cobrado apoios que já teria dado à Marielle em outros projetos.
A
lei, mesmo aprovada, depois foi vetada pelo então prefeito Marcelo Crivella, e
depois julgada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça.
Milicianos
infiltrados
Durante
o depoimento à PF, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Lessa
afirmou os irmãos Brazão infiltraram Laerte e sua mulher, Erileide Barbosa da
Rocha, no PSOL para vigiar a vereadora.
Considerados
“braços armados” da milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste, os paramilitares
receberam a missão de monitorar os passos da psolista e levantar informações
que pudessem ajudar no crime.
Segundo
Lessa, Laerte tinha vínculo direto com o deputado federal Chiquinho Brazão (sem
partido) e o conselheiro do Tribunal de Contas Domingos Brazão (MDB). Lessa, no
entanto, não explicou o que Laerte e Erileide ganhariam com o monitoramento da
vereadora.
O
cadastro de filiação dos dois aconteceu no mesmo dia em que Lessa começou a
fazer buscas na internet pelo nome de Marcelo Freixo, na época, uma das figuras
mais atuantes do PSOL.
Em
2019, Lessa admitiu em depoimento ao Ministério Público do Rio (MPRJ) ter
pesquisado na internet informações sobre o então deputado federal.
Lessa
diz, em sua defesa, que costuma ser um leitor assíduo de reportagens e que
presta atenção nas informações. "Eu não só leio, eu navego",
argumentou. Segundo o militar reformado, ao ler uma notícia sobre Freixo, então
candidato, decidiu fazer buscas na internet sobre ele e sua filha, mas apenas
por curiosidade.
Quem
é Laerte
Miliciano
de Rio das Pedras, Laerte foi preso em 2019, no âmbito da Operação Intocáveis,
que surgiu como um desdobramento das investigações do caso Marielle. Em 2020,
ele teve direito à liberdade condicional. Mas, no final de 2023, voltou a ser
preso em uma ação do MP contra a milícia de Rio das Pedras.
Segundo
as investigações, Laerte era um dos principais responsáveis pelo recolhimento e
repasse das taxas pagas pelos comerciantes e moradores da região.
Ele
também atuava no ramo de agiotagem (empréstimo de dinheiro a juros extorsivos),
fundamental para os negócios da organização criminosa.
A
denúncia do Ministério Público afirma que um endereço em nome de Laerte, na
Estrada de Jacarepaguá, nº 3145, era considerado um "escritório" da
organização.
Filiação
de Laerte
Laerte,
conforme revela o relatório final da PF sobre a morte de Marielle, filiou-se ao
PSOL cerca de vinte dias depois do segundo turno das eleições de 2016.
A
esposa de Laerte, Erileide Barbosa da Rocha, presa por envolvimento com a
quadrilha, também foi infiltrada no partido para ajudar a levantar informações
sobre a vereadora.
Ela
chegou ao PSOL um ano antes da morte de Marielle, segundo a PF. Na milícia,
“ela ajudava Laerte a tocar os negócios do grupo paramilitar, atuando na área
de contabilidade.”
As
investigações concluíram, porém, que a chegada de Laerte ao PSOL tinha um
interesse mais amplo: de monitorar eventuais represálias aos interesses da
milícia oriundos de parlamentares da sigla.
“Contudo,
à época, nada seguiu ou evoluiu para além das pesquisas”, ressalta a Polícia.
Entretanto,
tudo teria começado a mudar quando, segundo o relato feito aos investigadores
por Ronnie Lessa, o miliciano presenciou a parlamentar pedindo à população que
não aderisse a loteamentos situados em área de milícia. O fato teria sido a
gota d’água para os irmãos Brazão.
Em
2020, após vir à tona que Laerte tinha envolvimento com a milícia, ele e a
mulher foram expulsos do PSOL. O processo de desfiliação respeitou os trâmites
normais do estatuto do partido.
Chefe
de milícia também seguiu Marielle
Ronnie
Lessa, em um dos trechos do relatório da Polícia Federal, diz que, no dia 14 de
março, recebeu uma ligação de Edimilson da Silva, conhecido como Macalé, que
ajudou no planejamento do crime.
Macalé,
segundo Lessa, afirmou que ligou para o celular de Laerte, para confirmar
informações se Marielle estaria no Centro do Rio, na Casa das Pretas.
No
entanto, quem atendeu o celular foi Ronald Paulo Alves Pereira, conhecido como
Major Ronald, um dos alvos MP na Operação Intocáveis, e preso na ação. Ele era
considerado um dos principais chefes da organização criminosa.
Segundo
Lessa, Ronald e Laerte passaram diversas informações sobre o que Marielle faria
naquele dia. Durante as investigações da Operação Nevoeiro, da Polícia Federal,
investigadores descobriram que Ronald esteve no mesmo endereço que Marielle, no
número 10 da Rua da Assembleia, no Centro, no dia 6 de março.
Provas
obtidas pela Polícia Federal também apontam que um dos locais da antena do
telefone de Ronald, no dia, é no mesmo ponto em que Marielle e seu motorista
foram baleados e mortos, na Rua Joaquim Palhares, no Centro.
Fonte: CNN Brasil.
0 Comentários