Esse
medo vai além das preocupações comuns com a saúde e se torna uma ansiedade
constante, afetando a qualidade de vida e as interações sociais.
Nos
últimos anos, tem se observado um aumento significativo no número de pessoas
que enfrentam o medo constante de ficar doente. Esse medo vai além das
preocupações comuns com a saúde e se torna uma ansiedade constante, afetando a
qualidade de vida e as interações sociais.
De
acordo com a psicóloga Helouise Vieira, a chamada “ansiedade de doença” não se
resume a simples preocupações ocasionais com a saúde, mas a uma condição
diagnóstica reconhecida internacionalmente. O indivíduo que apresenta ansiedade
de doença – que entra nos critérios de Ansiedade Generalizada, segundo a
Classificação Internacional de Doença (CID) – desenvolve preocupação com a
ideia de estar doente acompanhada por uma ansiedade substancial com relação à
saúde, o que faz com que fique facilmente assustado por doenças.
"Essas
preocupações não são facilmente aliviadas por medidas médicas apropriadas,
exames ou diagnósticos negativos", explica. "O medo persiste, mesmo
quando não há evidências concretas de doença, o que pode levar a um ciclo
vicioso de ansiedade e preocupação constante".
A
ansiedade relacionada à saúde muitas vezes se manifesta em comportamentos como
a busca incessante por informações sobre doenças suspeitadas, exames repetidos
e a procura frequente por tranquilização médica. Porém, mesmo com o diagnóstico
de um profissional, é possível que ainda haja preocupações.
Uma
das principais dificuldades enfrentadas por aqueles que sofrem de ansiedade de
doença é a insatisfação com a assistência médica recebida. Muitas vezes, esses
pacientes se sentem desconsiderados pelos profissionais de saúde ou não levados
a sério, o que pode agravar ainda mais sua condição.
“Mesmo
com o acompanhamento médico devido a pessoa permanece com o medo de que o
diagnóstico esteja errado e/ou inconclusivo, o que faz com que a ansiedade se
instale”, alerta Helouise.
Consequências
Segundo
a psicóloga, as preocupações com a saúde assumem posição de destaque na vida da
pessoa, afetando atividades cotidianas e até mesmo resultando em invalidez.
“Indivíduos com o transtorno costumam examinar-se repetidamente (por exemplo,
examinam a própria garganta no espelho), pesquisam a doença suspeitada de forma
excessiva e buscam repetidamente o apoio e a tranquilização de familiares,
amigos ou médicos”, citou.
Esse
padrão de comportamento pode causar tensão significativa nos relacionamentos
familiares e sociais, além de fazer com que evitem situações que possam ser
percebidas como ameaças à saúde, como visitar familiares doentes ou praticar
atividades físicas.
"É
importante entender que as pessoas que sofrem desse transtorno não estão
buscando atenção, mas sim enfrentando uma necessidade existencial real",
ressalta. "O preconceito em relação aos distúrbios mentais muitas vezes
leva à subutilização dos serviços de saúde mental, o que pode prolongar o
sofrimento do indivíduo".
A
psicóloga avalia que existe um sofrimento psíquico que precisa ser validado e
entendido: “Existe uma dor, uma queixa que precisa ser avaliada e compreendida
para que haja diminuição dos sintomas que estão atrapalhando a qualidade de
vida do sujeito, é preciso compreender que ninguém quer sentir ansiedade para
chamar atenção ou algo do tipo – esse tipo de frase é apenas preconceituoso, se
existe a queixa há uma necessidade existencial”.
Problemas
familiares
A
autônoma Júlia Marques (nome fictício, a pedido da entrevistada), que passou
pela situação com o pai, conta que a ansiedade de doença causou inúmeras
situações de desconforto no meio familiar antes de ser diagnosticada.
“Meu
pai encarava qualquer sinal como uma doença, muitas vezes alegando ser algo
grave. Tínhamos muita dificuldade em convencê-lo de que estava tudo bem, que
não havia necessidade de preocupação. Brigamos muitas vezes, pois ele chegava a
pensar que estávamos ‘contra ele’”, relatou.
Ela
afirma, ainda, que o tratamento com uma psicóloga ajudou a controlar a
ansiedade e, hoje, seu pai consegue racionalizar seu medo de ficar doente.
Busca
pelo tratamento
Helouise
enfatiza que há esperança para aqueles que enfrentam esse desafio. Além do
acompanhamento médico adequado, a psicoterapia tem se mostrado eficaz no
tratamento da ansiedade de doença. Estratégias personalizadas podem ajudar os
indivíduos a identificar e desafiar padrões de pensamento prejudiciais,
reduzindo assim o sofrimento emocional e melhorando a qualidade de vida.
“Como
acreditam estar gravemente enfermos, indivíduos com transtorno de ansiedade de
doença são encontrados com muito mais frequência em contextos de saúde médica
do que mental. O aconselhável é procurar ajuda de um profissional da saúde
mental para acompanhamento psicoterápico e a partir de uma avaliação poder começar
a trabalhar nesses padrões comportamentais. É preciso quebrar os paradigmas e
normalizar sintomas ligados a questões de cunho emocional”, recomendou a
profissional.
"É
crucial entender que a redução da ansiedade não é apenas uma questão de
tratamento médico, mas também de qualidade de vida", destaca.
"Alimentação saudável, exercícios físicos regulares e a busca por um
equilíbrio emocional são fundamentais para enfrentar os desafios do dia a dia e
reduzir o impacto da ansiedade na saúde mental".
Em um
mundo onde o estresse e a sobrecarga de informações são comuns, é mais
importante do que nunca priorizar o autocuidado e buscar apoio quando
necessário: "Não podemos deixar que o medo da doença nos impeça de viver
plenamente. Com compreensão, apoio e tratamento adequado, é possível superar
esse desafio e recuperar o controle sobre nossa saúde mental e emocional".
Fonte: Cada Minuto.
0 Comentários