Disponibilizado na última semana, o relatório concentra informações dos 19 pontos analisados considerando o grau de perigo e risco para eventos de movimentação gravitacional.
O
Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), uma empresa pública vinculada ao
Ministério de Minas e Energia (MME), publicou o relatório de avaliação
geotécnica dos Cânions do Xingó, entre os estados de Alagoas, Sergipe e Bahia,
conforme a análise realizada por pesquisadores da instituição em fevereiro
deste ano.
Disponibilizado
na última semana, o relatório concentra informações dos 19 pontos analisados
considerando o grau de perigo e risco para eventos de movimentação
gravitacional de massa - deslizamentos, processos hídricos e erosão. Dessas
áreas, 13 foram classificadas como de perigo alto, três como perigo moderado e
três como perigo baixo.
Realizada
em atendimento à solicitação protocolada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Urbano e Sustentabilidade de Sergipe, a vistoria foi realizada entre os dias 14
e 24 de fevereiro, contemplando os municípios de Canindé do São Francisco (SE),
Piranhas (AL), Delmiro Gouveia (AL), Olho D’Água do Casado (AL) e Paulo Afonso
(BA). A avaliação na região foi realizada pelos geólogos do SGB-CPRM Anselmo
Pedrazzi, Fernando Cunha e Rubens Dias, com o acompanhamento de representantes
da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros dos três estados, além de técnicos do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Companhia
Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).
O
relatório e as imagens captadas durante a vistoria estão disponíveis no
Repositório Institucional de Geociências (RIGeo) do SGB-CPRM e podem ser
acessados por meio do link https://rigeo.cprm.gov.br/handle/doc/22706.
Com
os estudos, o SGB-CPRM busca registrar e caracterizar as principais áreas
visitadas por turistas que contenham áreas suscetíveis à ocorrência de
processos geológicos que possam culminar em desastres, colocando em risco os
visitantes; subsidiar os gestores públicos na tomada de decisões voltadas à
prevenção, mitigação e resposta a desastres provocados; e contribuir com a
definição de critérios para disponibilização de recursos públicos destinados ao
financiamento de intervenções nas áreas afetadas por movimentos de massa,
enchentes, inundações e enxurradas.
A
avaliação foi motivada pelo evento ocorrido no lago da Represa de Furnas, na
região do município de Capitólio, em Minas Gerais, no mês de janeiro. A semelhança
entre os cenários, de ambas atrações turísticas, serviu de alerta aos
responsáveis pela administração das áreas turísticas na região do Cânion do
Xingó, de que algo semelhante pudesse ocorrer. Chegaram, então, à conclusão de
que era necessário realizar uma vistoria preventiva com o intuito de fomentar o
aumento da segurança dos visitantes e demais frequentadores.
Segundo
os pesquisadores em geociências do SGB-CPRM, devido a sua vastidão e sua
complexidade geológica, existem variadas conformações de terreno nos Cânions.
Todavia, em geral, as margens do Lago de Xingó são suscetíveis a movimentos
gravitacionais de massa em praticamente toda sua extensão. Seus paredões, nos
trechos de maior amplitude, podem chegar aos 80 metros de altura, o equivalente
a um prédio de 25 andares e suas inclinações chegam a ser negativas,
literalmente formando tetos sobre as águas do lago.
Os
principais processos identificados foram: Tombamento rochoso, causado por um
movimento em arco de um fragmento de rocha solto, apoiado apenas pela base;
Queda de blocos, causado por um movimento de queda livre, de fragmentos de
rocha, normalmente ligados ao paredão apenas lateralmente, sem apoio para a
base; Rolamento de blocos, causado por fragmentos de rocha que podem rolar ou
quicar devido a perda de apoio ou atrito em superfícies inclinadas;
Desplacamento, causado pelo desprendimento de lajes ou placas rochosas, em um
movimento deslizante sobre superfícies inclinadas.
Os
locais analisados foram organizados nas seguintes classificações: áreas
associadas a movimentos gravitacionais de massa; áreas de risco geológico
associadas a processos hídricos; áreas a serem monitoradas e áreas sem
necessidade de monitoramento. Ao detalhar as peculiaridades de cada local, os
pesquisadores descrevem no relatório que a região dos cânions do lago Xingó,
apresenta, em sua maior parte, condições potenciais para a ocorrência de
movimentos gravitacionais de massa, ao longo de seus paredões e taludes
naturais.
“Suas
amplitudes e declividades, ultrapassam consideravelmente e frequentemente, os
parâmetros mais conservadores, requeridos nas normas em vigor. O padrão de
fraturamento, bem como a frequência das fraturas no maciço rochoso, contribuem
para as condições de erodibilidade e consequentemente, sua oferta de material
rochoso suscetível a instabilidades. Além de sua vulnerabilidade natural, foi
constatado em alguns dos pontos visitados, a existência de infraestruturas
permanentes e móveis, onde ocorre a permanência de turistas e moradores da
região, de forma frequente.
Essas
estruturas usadas durante as visitações, estão localizadas principalmente junto
aos paredões do cânion, a distâncias menores que a própria altura dos paredões.
Diante destes fatos, deve se afirmar, que existe a possibilidade de ocorrer acidentes
movimentos gravitacionais de massa (deslizamentos, queda e rolamento de blocos,
desplacamentos, tombamentos) a processos e hídricos de alta energia”, diz
trecho do relatório.
Os
pesquisadores encerram o documento com sugestões aos gestores públicos para
adoção de medidas para resguardar a segurança dos que frequentam as regiões,
considerando medidas de monitoramento, fiscalização e educativas; limitação de
acesso a determinadas áreas; desenvolvimento de estudos geotécnicos e
hidrológicos; entre outras.
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