Porta-voz diz que movimento
não buscará retaliação contra ex-soldados.
O Talibã afegão anunciou,
nesta terça-feira (17), que quer manter relações pacíficas com outros países e
que respeitará os direitos das mulheres, nos moldes da lei islâmica. Feitos na
primeira entrevista coletiva oficial desde a tomada inesperada da capital, os
anúncios do Talibã foram escassos em detalhes, mas levam a crer em uma postura
mais suave do que durante seu governo de 20 anos atrás, e chegaram no momento
em que Estados Unidos e aliados ocidentais retiravam diplomatas e civis, um dia
depois de cenas caóticas de afegãos lotando o aeroporto de Cabul.
Enquanto se apressam em
partir, potências estrangeiras avaliam como reagir à situação no país desde que
as forças afegãs se desfizeram, em questão de dias, de conquistas, e muitos
preveem um esfacelamento provavelmente rápido dos direitos das mulheres.
Entre 1996 e 2001, quando
também governou guiado pela lei islâmica, ou shariah, o Talibã proibiu as
mulheres de trabalhar e aplicava a elas punições, incluindo o apedrejamento
público. As meninas não podiam frequentar escolas, e as mulheres tinham que
usar burcas que as cobriam por inteiro para sair.
"Não queremos nenhum
inimigo interno ou externo", disse o principal porta-voz do movimento,
Zabihullah Mujahid.
As mulheres terão permissão
para trabalhar e estudar, e "serão muito ativas na sociedade, mas dentro
dos moldes do Islã", acrescentou.
"Precisaremos ver o que
realmente acontece, e acho que precisaremos ver atos no local em termos de
promessas cumpridas", disse o porta-voz da União Europeia, Stéphane
Dujarric, aos repórteres em Nova York, em reação à entrevista coletiva do Talibã.
Mujahid disse que o Talibã
não buscará retaliação contra ex-soldados e membros do governo apoiado pelo
Ocidente.
Segundo Mujahid, o movimento
está garantindo anistia a ex-soldados do governo afegão, prestadores de serviço
e tradutores que trabalharam para forças internacionais."Ninguém ferirá
vocês, ninguém baterá em suas portas", disse ele, acrescentando que existe
uma "diferença enorme" entre o Talibã de agora e o de 20 anos atrás.
De acordo com Mujahid, a
mídia privada pode continuar sendo livre e independente no Afeganistão. Ele
afirmou que o Talibã está comprometido com a mídia dentro de seus moldes
culturais.
O porta-voz do movimento
disse ainda que as famílias que tentam fugir do país pelo aeroporto deveriam
voltar para casa e que nada lhes acontecerá.
O tom conciliador de Mujahid
contrastou acentuadamente com os comentários do primeiro-vice-presidente
afegão, Amrullah Saleh, que se declarou o "presidente interino
legítimo" e prometeu não se curvar aos novos governantes de Cabul.
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