Senador
diz que ameaças do Ministro em usar o aparato do Governo Federal para intimidar
adversário estão se materializando.
No
fim de abril, logo após a abertura da CPI da Pandemia, Torres disse em
entrevista às Páginas Amarelas que iria requisitar à PF informações sobre todas
as operações que investigam corrupção nos estados. A afirmação foi entendida
como uma das armas que o governo federal e senadores aliados usariam para intimidar
os adversários políticos na comissão.
Na
semana passada, Calheiros foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro em um inquérito aberto em 2017 por
fatos que teriam ocorrido em 2012 envolvendo a Braskem, subsidiária da
Odebrecht. O senador afirma que foi isentado pelos diretores da empresa e que o
indiciamento visa criar “fato jornalístico”. Além disso, destaca que a PF não
tem autonomia para indiciar políticos com prerrogativa de foro por função.
“Desde
que o ministro da Justiça, que é delegado da polícia, deu entrevista a VEJA
insinuando que usaria a polícia politicamente eu adverti ao país, ao Senado e à
Comissão Parlamentar de Inquérito que isso não iria terminar bem. Que seria a
primeira vez que publicamente alguém ousava dizer isso. Fui ministro da Justiça
e sei exatamente o que estou falando”, diz Calheiros.
Ao
longo dos dois meses de funcionamento da CPI, Calheiros se tornou um dos
principais desafetos de Jair Bolsonaro -- a ponto de ouvir xingamentos do
senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente, durante uma
sessão. Cabe ao relator definir cronogramas, elaborar o plano de trabalho e
preparar o relatório final da comissão, que tem desgastado a imagem do governo
ao explorar ações e omissões que contribuíram para o atraso na vacinação e para
a morte de 520 000 pessoas pela Covid-19.
Agora,
a CPI avança sobre as relações entre Flávio e a cúpula da Precisa Medicamentos,
que intermediou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin por
1,6 bilhão de reais pelo Ministério da Saúde. Foi o imunizante mais caro
negociado pela pasta.
Para
Calheiros, o avanço da investigação assustou o governo, que tenta intimidá-lo
por meio de ações envolvendo a Polícia Federal, como o indiciamento no
inquérito aberto em 2017. O senador ressalta que o ministro Torres é amigo do
filho do presidente, e destaca que, conforme revelado por VEJA, Flávio
Bolsonaro assumiu que levou o sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson
Maximiano, a uma reunião no BNDES em outubro de 2020.
“O
que ele [Torres] ameaçou na entrevista a VEJA, está se materializando. Em nome
do presidente [Jair] e do filho [Flávio]”, disse o relator da CPI.
Na
íltima quinta-feira, 1º, a CPI ouviria o empresário Maximiano. O depoimento foi
desmarcado depois que o sócio da Precisa Medicamentos conseguiu um habeas
corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para permanecer em silêncio no
depoimento com a justificativa de que estava sendo investigado pela Polícia
Federal. O pedido de abertura de inquérito foi feito pelo ministro Torres dois
dias antes do depoimento de Maximiano à CPI. Até então, diz Calheiros,
Maximiano seria ouvido na condição de testemunha, sendo obrigado a dizer a
verdade; ao passar à condição de investigado “apenas para justificar a
concessão de um habeas corpus”, obteve a prerrogativa de ficar em silêncio na
CPI.
“O
delegado que se submete por ordem do presidente da República e do ministro da
Justiça a indiciar um senador, não é delegado, é jagunço, porque não pode fazê-lo.
É um caso típico de abuso de autoridade. O objetivo é calar a CPI, tumultuar
nossos trabalhos”, diz Calheiros.
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