Levantamento foi realizado pela Universidade Federal
de Pelotas em parceria com a Universidade de Orford e com base em dados do
Ministério de Saúde.
40 mil vidas foram poupadas no Brasil desde que a
vacinação contra a covid-19 começou no País, aponta um levantamento da
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a Universidade de
Oxford e com base em dados do Ministério da Saúde coletados entre 3 de janeiro
a 27 de maio deste ano. Em idosos acima dos 80 anos houve redução de 16% nos
óbitos pela doença, enquanto o total de mortes pelo coronavírus entre pessoas
dos 70 aos 79 anos também diminuiu 9% no mesmo período.
"Existe a diferença entre a eficácia da vacina e
a efetividade, isto é, como ela age no 'mundo real'. Esse recorte nos indica
que a vacina está funcionando e, principalmente, que tanto a Coronavac quanto a
AstraZeneca protegem contra a variante gama (P.1)", explica o
epidemiologista César Victora, professor emérito da UFPel e ex-presidente da
Associação Internacional de Epidemiologia.
O recorte da pesquisa leva em consideração o período
em que a cobertura vacinal avançou lado a lado com a disseminação da variante
gama no País, aumentando as mortes por covid em todas as faixas etárias entre
janeiro e maio. Os dados apontam que a mortalidade por covid em pessoas acima
dos 80 anos já começou a cair a partir de fevereiro, menos de um mês após o
início da vacinação.
Da segunda quinzena de fevereiro em diante, cerca de
80% das pessoas com 80 anos ou mais já tinham se vacinado ao menos com a primeira
dose da vacina, mesmo período em que o percentual de mortes entre essa faixa
etária começou a cair de 25% até atingir a estabilidade nos 12% observados em
maio. A estimativa é que 32,6 mil vidas foram poupadas apenas neste grupo
durante o período.
Entre os adultos de 70 a 79 anos, 90% já tinham
tomado ao menos a primeira dose da vacina até o final de maio. O impacto da
cobertura vacinal no grupo começou a partir da segunda quinzena de abril e se
estabilizou no fim do mês seguinte, quando eles passaram a representar 16% das
mortes pela covid, contra os 25% de antes. Neste grupo, a pesquisa estima que
7,5 mil vidas foram popupadas graças à vacinação.
"Nós não sabíamos qual seria o desempenho da
CoronaVac ou da AstraZeneca contra a variante gama, mas agora podemos afirma
que tudo indica que as duas funcionam muito bem contra essa cepa", aponta
Victora. Ao longo de janeiro, a vacina produzida pelo Instituto Butantan
representou 65,4% das doses aplicacadas, contra 29,8% da AstraZeneca/Oxford. Já
entre abril e maio, essa proporção foi invertida e a CoronaVac passou a
respresentar 36,5% das vacinas utilizadas, enquanto 53,3% eram da
AstraZeneca/Oxford e o restante vinha da Pfizer/BioNTech ou do Instituto Serum.
Victora frisa ainda que as mortes por outras causas
que não a covid permaneceram estáveis para ambos os grupos, o que eliminaria um
possível "problema de dados ou registro de óbitos". Segundo os dados
do Ministério da Saúde, foram 238.414 óbitos pela doença e mais 447.817 por
outras causas entre janeiro e maio. "Se a gente tivesse começado a
vacinação ainda em dezembro, poderíamos ter salvado quase o dobro de vidas,
porque a mortalidade começou a cair apenas no final de fevereiro", observa
o epidemiologista.
Mesmo com a redução dos óbitos, Victora alerta que o
País está longe de viver o pós-pandemia e frisa que o uso da máscara facial e o
distanciamento social continuam necessários no combate ao vírus. "Nenhuma
vacina é 100% eficaz, elas protegem muito mais contra mortes e internações na
UTI do que contra a infecção. A questão é que a probabilidade de os vacinados
morrerem é muito menor do que os não vacinados."
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