Pesquisa envolveu 667 pacientes em 55 hospitais de todo o país.
Um estudo promovido por
pesquisadores de um consórcio de instituições de saúde brasileiras concluiu que
a hidroxicloroquina não é eficaz para o tratamento de casos precoces da
covid-19. A pesquisa foi publicada no periódico New England Journal of Medicine
hoje.
Os pesquisadores da Coalizão
Covid-19 Brasil conduziram um ensaio clínico randomizado de 15 dias com três
grupos, envolvendo um total de 667 pacientes em 55 hospitais de todo o país.
Para um grupo foi ministrada apenas hidroxicloroquina, para outro
hidroxicloroquina e azitromicina e para o terceiro nenhum dos remédios, com
tratamento denominado padrão.
Foi empregado um modelo de análise
com uma escala de sete níveis de acordo com a situação e saúde dos pacientes,
indo da não hospitalização sem comprometimento de atividades à morte em função
da doença.
Os autores não encontraram
efeitos do uso de hidroxicloroquina sozinha ou com azitromicina em comparação
aos pacientes que não receberam os remédios, do denominado grupo-controle.
“Entre os pacientes com
covid-19, não houve diferença entre grupos nas probabilidades proporcionais
entre grupos de ter um desempenho pior na escala de sete pontos ordinais no fim
do período de 15 dias”, afirmam os pesquisadores no artigo.
Na escala, em que 1 são as
melhores condições de saúde e 7 é a morte por covid-19, o grupo que recebeu o
tratamento padrão teve percentual maior do que os pacientes cujo tratamento foi
feito com hidroxicloroquina apenas (68% contra 64%) no número de pessoas que
permaneceram no Estágio 1, com melhor quadro de saúde.
O estudo também identificou
mais efeitos adversos entre quem recebeu hidroxicloroquina com azitromicina (39.3%)
e hidroxicloroquina (33,7%) do que no grupo com tratamento padrão (18%).
Consórcio
Os pesquisadores da Coalizão
Covid-19 Brasil fazem parte das equipes dos hospitais e institutos Albert
Einstein, HCor, Alemão Oswaldo Cruz, Beneficiência Portuguesa e Sírio Libanês,
de São Paulo, e Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
Governo
O estudo vai em sentido
contrário do que tem defendido o governo federal. Sob a gestão interina de
Eduardo Pazuello, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de cloroquina
e hidroxicloroquina também em casos precoces e como prevenção, a partir da
decisão do médico. Até então o medicamento era recomendado apenas em casos
médios e graves, pelas possibilidades de complicações.
Em entrevistas coletivas,
representantes do MS afirmaram que havia evidências de eficácia da cloroquina,
embora sem listá-las. Na semana passada, a Sociedade Brasileira de Infectologia
(SBI) recomendou a retirada da cloroquina e da hidroxicloroquina do tratamento
da covid-19.
No dia 19 de julho, a
Associação Médica Brasileira (AMB) defendeu em nota a autonomia do médico para
prescrever o medicamento com a anuência do paciente.
Perguntado pela Agência
Brasil sobre o estudo, o Ministério da Saúde, por meio de sua assessoria,
informou que “o uso de qualquer medicamento compete à autonomia e orientação
médica, em consonância com o esclarecimento e consentimento do paciente”.
Fonte: Agência Brasil.
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