Transmissão
comunitária começou antes de diagnosticado o primeiro caso.
O novo coronavírus já
circulava no Brasil na primeira semana de fevereiro, antes mesmo de ter sido
confirmado o primeiro caso vindo do exterior, estima uma pesquisa liderada pelo
Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Segundo o
estudo, a transmissão comunitária do vírus começou por volta de 4 de fevereiro,
ao menos 20 dias antes de o primeiro caso ter sido diagnosticado em um viajante
que chegou da Itália, em 26 de fevereiro.
A pesquisa indica que a
circulação do Sars-CoV-2 já ocorria no Brasil quase 40 dias antes da transmissão
comunitária ter sido confirmada em São Paulo e no Rio de Janeiro, em 13 de
março. Como a chegada do vírus precede a transmissão comunitária, os dados
indicam que sua introdução no Brasil se deu no fim de janeiro.
Os pesquisadores também
analisaram dados internacionais, e sua metodologia confirmou outros estudos que
apontam o início da transmissão comunitária na Europa entre meados de janeiro e
o início de fevereiro. Em Nova York, epicentro da covid-19 nos Estados Unidos,
a transmissão comunitária teria começado no início de fevereiro. Em todos os
casos, a circulação do vírus teve início entre duas e quatro semanas antes das
primeiras confirmações de casos em viajantes.
O estudo foi publicado na
revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e contou com a
participação do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC/Fiocruz, da
Fiocruz-Bahia, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e da
Universidade da República (Udelar), no Uruguai. Diante da urgência de
informações científicas sobre a doença, a publicação se deu na seção fast-track
dedicada a estudos sobre a pandemia. A íntegra pode ser conferida aqui.
Segundo o estudo, encontrar
o início da transmissão comunitária por meio de análises genéticas tem como
obstáculo o curto período de tempo desde o início da epidemia e a quantidade
limitada de genomas do Sars-CoV-2 que já foram sequenciados na maioria dos
países.
Os pesquisadores
desenvolveram, então, um método estatístico para estimar o início da
transmissão comunitária a partir do número de óbitos nas primeiras semanas. O
total de mortes é considerado o dado mais confiável, devido à carência de
testes e ao grande número de casos assintomáticos. A partir desse dado, os
cientistas consideraram que o tempo médio entre a infecção e o óbito é de três
semanas e que a taxa de mortalidade gira em torno de 1%.
Para confirmar a validade do
método, o cálculo foi aplicado em casos dos Estados Unidos e da China, onde já
havia uma data determinada para o início da transmissão comunitária a partir da
análise genética do Sars-CoV-2. Os resultados obtidos com o cálculo estatístico
foram semelhantes aos da análise genética.
O IOC destaca que a pesquisa
corrobora outras evidências de que o coronavírus começou a circular no Brasil
antes do primeiro caso oficialmente confirmado.
Uma delas é a hospitalização
de pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SRAG), medida pelo sistema
Infogripe, da Fiocruz. O número de internações encontra-se acima do observado
em 2019 desde meados de fevereiro.
Fonte:
Agência Brasil.