Presidente
fez pronunciamento no Palácio do Planalto.
O presidente Jair Bolsonaro
fez um pronunciamento na tarde desta sexta-feira (24), no Palácio do Planalto,
para rebater as acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro, que anunciou sua
demissão do Ministério da Justiça mais cedo. Acompanhado de seus ministros,
Bolsonaro falou durante 46 minutos e negou que tenha pedido para o então
ministro interferir em investigações da Polícia Federal (PF).
"Não são verdadeiras as
insinuações de que desejaria saber sobre as investigações em andamento. Nos
quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio
Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam
sendo realizadas, a não ser aquelas, não via interferência, mas quase como uma
súplica, sobre o Adélio [Bispo], o porteiro, e meu filho 04 [Jair Renan]",
afirmou o presidente, em uma referência às investigações sobre a tentativa de
assassinato contra ele na campanha eleitoral de 2018 e às investigações da
Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o assassinato da vereadora Marielle
Franco, também em 2018. Bolsonaro citou a lei n° 13.047 de 2014 para destacar
que tem a prerrogativa de nomear e exonerar o diretor-geral da PF.
"Falava-se em
interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o
ministro, por que eu não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da
Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o
diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo.
Será que é interferir na PF quase que exigir, implorar [a] Sergio Moro que
apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou
com Marielle [Franco, vereadora assassinada] do que seu chefe supremo? Cobrei
muito dele isso daí, [mas] não interferi", afirmou. O diretor-geral da PF,
Maurício Valeixo, nome indicado por Sergio Moro, foi exonerado do cargo nesta
sexta-feira.
O decreto de exoneração de
Moro do cargo de ministro foi publicado em edição extra do Diário Oficial da
União, no final da tarde de hoje. Em um pronunciamento pela manhã para anunciar
que deixaria o governo, Sergio Moro afirmou que Bolsonaro queria colocar alguém
de sua própria confiança na direção da PF. "Me disse, mais de uma vez,
expressamente, que queria ter [na direção-geral da PF] uma pessoa do contato
pessoal dele, para quem ele pudesse ligar, colher informações, que pudesse
colher relatórios de inteligência. Este, realmente, não é o papel da PF”,
afirmou Moro.
Jair Bolsonaro disse, em seu
pronunciamento, que, como presidente, tem o direito de se dirigir diretamente a
outros funcionários do governo federal, inclusive subordinados de seus
ministros. "O dia que eu tiver que me submeter a qualquer funcionário meu,
eu deixarei de ser presidente da República. Falei para que ele que quero um
delegado [...] que eu possa interagir com ele. Por que não? Eu interajo com os
órgãos de inteligência das Forças Armadas, eu interajo com a Abin [Agência
Brasileira de inteligência], interajo com qualquer um do governo. Sempre procuro
o ministro, mas numa necessidade, eu falo diretamente com o primeiro escalão
daquele ministro", afirmou.
De acordo com Bolsonaro, o
delegado Maurício Valeixo estaria cansado e a troca no comando da PF foi
conversada com Sergio Moro. "Conversando ontem com o Moro, entre muitas
coisas, até que chegou na questão Valeixo, e eu falei que está na hora de botar
um ponto final nisso. Ele está cansado, está fazendo como pode o seu trabalho.
Pessoalmente, não tenho nada contra ele. Conversei poucas vezes com ele durante
um ano e quatro meses, sim, poucas vezes, mas conversei com ele, e a maioria
das vezes estava o Sergio Moro do lado. Então, falei que no dia de hoje o
Diário Oficial publicaria a exoneração do senhor Valeixo. E pelo que tudo
indicava, uma exoneração a pedido."
Em publicação no Twitter,
após o pronunciamento, o agora ex-ministro Sergio Moro voltou a afirmar que o
ex-diretor-geral da PF não pediu demissão do cargo. "De fato, o diretor da
PF Maurício Valeixo estava cansado de ser assediado desde agosto do ano passado
pelo Presidente para ser substituído. Mas, ontem, não houve qualquer pedido de
demissão, nem o decreto de exoneração passou por mim ou me foi informado",
postou.
No final da tarde, o Diário
Oficial da União também trouxe, em edição extra, uma nova publicação da
exoneração de Maurício Valeixo da PF, desta vez sem a assinatura eletrônica de
Sergio Moro, que constava na primeira versão do decreto.
Vaga
no STF
Bolsonaro disse ainda que
Sergio Moro condicionou a demissão de Maurício Valeixo a uma indicação para a
vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). "Já que ele falou em
algumas particularidades, mais de uma vez o senhor Sergio Moro disse pra mim:
você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar
para o Supremo Tribunal Federal. Me desculpe, mas não é por aí. Reconheço as
suas qualidades, em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho,
mas eu não troco. Outra coisa, é desmoralizante um presidente ouvir isso".
Sobre esse trecho, no Twitter,
o ex-ministro escreveu: "A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício
Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o
STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a
substituição do Diretor Geral da PF".
Fonte:
Agência Brasil.