A morte de três policiais militares na última quinta-feira (23) fez explodir o número de homicídios em Fortaleza. Em quatro dias, entre quinta e domingo (26), a cidade registrou outras 40 pessoas assassinadas, ou 10 por dia --como comparação, a capital cearense registrou, neste ano, média de quatro homicídios por dia.

O assassinato de dois policiais da reserva e um policial que estava de folga em um bar, com dezenas de tiros, foi o estopim para alavancar o índice de violência.

Foram assassinados o sargento da reserva José Augusto de Lima, 58; o tenente Antonio Cezar Oliveira Gomes, 50, que tinha acabado de entrar na reserva; e o subtenente da ativa Sanderley Cavalcante Sampaio, 46. Segundo a Polícia Civil, seis homens foram detidos pelo crime.

Durante os primeiros 19 dias do mês de agosto, os períodos entre quintas-feiras e domingos tiveram média de 2,5 assassinatos na capital cearense. Veja:

8 mortos entre quinta (2/08) e domingo (5/08)

7 mortos entre quinta (9/08) e domingo (12/08)

15 mortos entre quinta (16/08) e domingo (19/08)

43 mortos entre quinta (23/08) e domingo (26/08)

Os dados foram divulgados no site da SSPDS-CE (Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social). A polícia investiga se o aumento no número de homicídios entre os dias 23 e 26 deste mês tem ligação com o triplo homicídio dos PMs.

Para Luiz Fábio Paiva, professor de sociologia na UFC (Universidade Federal do Ceará) e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, registrar "séries de mortes após assassinatos de policiais são comuns no Ceará". "Recebem, inclusive, apoio de políticos que, no intuito de angariar votos de operadores de segurança pública, julgam não ser possível culpar os agentes públicos por crimes que cometem no exercício da função", afirmou o professor. Segundo estudo do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), há presença de três grupos criminosos no Ceará: os aliados PCC (Primeiro Comando da Capital) e GDE (Guardiões do Estado), e, isolado, o CV (Comando Vermelho).

De acordo com os dados, o Ceará foi, em 2017, o terceiro estado do país com mais mortes violentas. A taxa foi de 59,1 mortos a cada 100 mil habitantes. À frente do estado, estão Rio Grande do Norte (68) e Acre (63,9).

Para o sociólogo, a situação no estado é de "barbárie e total violação dos direitos de cidadania dos mais pobres". "O governo estadual se omite para não comprometer seu capital eleitoral entre segmentos policiais de direita, apoiados por políticos que os incentivam a fazer 'justiça pelas próprias mãos'", disse.

Segundo a secretaria estadual, "houve redução no número de crimes violentos no acumulado de 2018, entre janeiro e julho, com 2.758 ocorrências registradas, contra 2.773 no mesmo período de 2017". O número representa uma queda de 0,5%.

A polícia investiga se uma facção criminosa determinou o assassinato dos PMs como vingança para a morte de um integrante do grupo criminoso.

A PM cearense decretou luto de três dias. "Que os nossos irmãos de farda não sejam jamais esquecidos por todos nós, que continuamos na labuta diária por uma segurança cada vez melhor", divulgou a corporação, em nota.