Elaine Souza Garcia teve
treinamento de fuzil com CAC e era responsável por tráfico de drogas e armas,
além da execução de rivais. Operação da Polícia Federal e do MP prendeu
acusados de participarem de assaltos violentos a bancos e transportadora de
valores.
Apontada como uma das chefes
do núcleo do Primeiro Comando da Capital (PCC) responsável por ataques
conhecidos como "novo cangaço" ou "domínio de cidades",
Elaine Souza Garcia foi aprovada no programa de estágio para estudantes de
Direito do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e assinaria a posse para o
cargo na cidade de Itapeva a partir de terça-feira (10).
No Diário Oficial do dia 4
de setembro, uma publicação assinada pelo procurador-geral de Justiça de SP,
Sérgio de Oliveira e Costa, confirma o chamamento dos candidatos aprovados no
processo ao estágio da área de Direito, convocando os selecionados a assinar o
termo de posse e começaria na função a partir do dia 10 de setembro. Elaine
Souza Garcia aparece entre os oito convocados para a regional de Sorocaba,
devendo se apresentar na Promotoria de Justiça de Itapeva (SP) às 9h.
No mesmo dia, no entanto,
ela foi alvo de um mandado de prisão preventiva durante uma operação do próprio
MP, em conjunto com a Polícia Federal (PF), que apontou a participação de CACs
(Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores) no fornecimento de armas e
munições para o PCC, além de treinamento para o manuseio e disparo de armamento
de guerra usados em ataques a bancos, carros-forte e transportadora de valores.
Segundo a investigação,
Elaine Souza Garcia tinha a função de coordenar o tráfico de drogas, a execução
de rivais, o comércio ilegal de armas de fogo e munição para os ataques de
"novo cangaço". Nesse tipo de ação, os criminosos usam violência e
armamento pesado para fazer roubos a bancos, caixas eletrônicos, carros-forte e
transportadoras de valores, normalmente acompanhados de muita violência e terror
social.
Ela também aparece em um
vídeo obtido pela GloboNews (veja acima) recebendo treinamento de um CAC para
manusear e atirar um fuzil. Desde julho, Elaine é ré com outras 17 pessoas em
um processo que apura a relação do PCC com colecionadores e atirados para
ataques em pelo menos quatro cidades do Brasil: Criciúma (SC) (2020),
Guarapuava (PR) (2022), Araçatuba (SP) (2021) e Confresa (MT) (2023).
Ela já era investigada e
monitorada antes da denúncia. Em maio, a primeira fase da Operação Daal, o
companheiro dela, Delvane Lacerda, além de outros integrantes da facção
criminosa e CACs que forneciam armas para a organização.
A GloboNews tenta contato
com a defesa de Elaine Souza Garcia, mas nenhum advogado foi localizado para se
manifestar sobre o assunto.
Fontes ouvidas pela
GloboNews veem como "perigosa" a possibilidade de tentativa de
infiltração do crime organizado no Ministério Público de São Paulo, assim como
foi denunciado pelo próprio MP em empresas do transporte de ônibus municipal da
capital paulista, fraudes em licitações em Guarulhos (SP) e em eleições
municipais no interior do estado.
Processo de estágio
O processo seletivo para
vagas de estudantes de graduação de Direito no Ministério Público de São Paulo
foi organizado pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
O CIEE disse, por meio de
nota, que "o processo seletivo do MPSP seguiu os protocolos de segurança
da organização estabelecidos no edital, tais como: apresentação de atestado de
boa conduta e certidões de distribuições criminais estadual e federal".
O MPSP informou que "a
diretoria-geral da instituição, apertada pelo Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco), tomou as devidas providências para impedir
que a posse se concretizasse".
Fornecedores de armas
Colecionadores de armas,
atiradores e caçadores se tornaram fornecedores de armas e munições para
facções criminosas no país, de acordo com operações da PF e do Ministério
Público de São Paulo e da Bahia.
Em 2019, o governo de Jair
Bolsonaro (PL) flexibilizou as regras dos CACs e permitiu que mais pessoas
tivessem acesso a armas por meio dessa modalidade. Com as mudanças, o número de
novas armas registradas por ano saltou de 59 mil, em 2018, para 431 mil em 2022
– último ano de mandato do ex-presidente.
Treinamento com fuzil
Um vídeo obtido pelos
promotores e delegados mostra quando o investigado Otávio de Magalhães, que tem
registro como CAC, explica para Elaine e seu companheiro, Delvane Lacerda
(vulgo Pantera) - como usar um fuzil (veja acima).
De acordo com a PF e o MP,
Otávio responde por porte irregular de arma de uso restrito e tinha a função de
comprar e vender de maneira ilegal armamento e munição para a facção criminosa.
Quem é CAC pode comprar armas e munições legalmente, mas não revendê-las.
Na casa de Otávio Magalhães,
os investigadores relatam ter encontrado "verdadeiro arsenal bélico, como
dezenas de armas de fogo com e sem registro, milhares de munições, acessórios,
pólvora, artefatos explosivos de fabricação caseira e acionador, "objetos
comumente empregados na prática de roubos na modalidade “domínio de cidade”.
Na terça-feira (10), a PF e
o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do
Ministério Público, deflagraram a segunda fase da Operação Baal e prenderam
três pessoas ligadas a ataques do “novo cangaço”.
Foram presos:
JAKSON OLIVEIRA SANTOS
(Dako): integrante do PCC que permaneceu foragido de 2005 até 2024, quando foi
preso em outra investigação feita pelo Gaeco de Campinas (SP). Na ocasião,
foram apreendidas armas de fogo, acessórios, munições, roupas camufladas e
outros objetos usados na prática de crimes violentos (alvo já estava preso e
foi cumprido novo mandado de prisão preventiva na cadeia).
LAINE SOUZA GARCIA: segundo
a investigação, fez o treinamento com o fuzil, e também tinha a função de
coordenar o tráfico de drogas, a execução de rivais, e o comércio ilegal de
armas de fogo e munição.
DIOGO ERNESTO NASCIMENTO
SANTOS: segundo a investigação, ele foi preso pelo crime de receptação em
Rondonópolis (MT). Obteve a liberdade provisória, mas deixou de cumprir as
medidas cautelares judiciais e, por isso, teve novo pedido de prisão preventiva
aceito. A apuração indica que, além de exercer papel fundamental no núcleo
financeiro da organização criminosa, estava ligado inclusive à prática de
execuções.
A GloboNews tentou contato
com os alvos citados na investigação, mas, até a última atualização desta reportagem,
as defesas não foram encontradas para comentar o assunto.
18 pessoas denunciadas
Desde o começo do ano, 18
pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público a partir dessa investigação.
Na primeira fase da operação, os investigadores prenderam quatro CACs que
forneceram armas e munições para o PCC. Esse núcleo da facção financiou pelo
menos quatro "domínios de cidade": Criciúma (SC) (2020), Guarapuava
(PR) (2022), Araçatuba (SP) (2021) e Confresa (MT) (2023).
No ataque em Confresa, foi
identificado que um dos acusados morava em São Paulo e integrava o PCC. Os
elementos colhidos revelaram que essa e outras ações semelhantes foram
financiadas por integrantes da facção, que também atua no tráfico de drogas e
na lavagem de dinheiro.
A partir da investigação de
Mato Grosso, a PF e os promotores também descobriram outros ataques com
financiamento de CACs. Os criminosos também são investigados por diversas
execuções em Avelino Lopes (PI) e disputa de ponto de venda de drogas em
Osasco, na Grande São Paulo, além de outras relações com o crime organizado na
lavagem de dinheiro.
"A aquisição de armas
pelo PCC não é novidade. Mas a partir do momento em que os CACs conseguem essa
facilidade de ter acesso ao armamento, aquisição de munição e acabam não usando
e cedendo para os criminosos, isso facilita as ações de domínio de cidade e
novo cangaço", explica o delegado da PF Jeferson Di Schiavi.
"O grupo também é
investigado por diversas execuções em Avelino Lopes (PI) e pela disputa de
território para o comércio de drogas em Osasco, na Grande São Paulo. É um grupo
que atua em todo país, mas com base em São Paulo e com grupos bem atuantes no
Norte e no Nordeste do país", complementou o promotor de Justiça Eduardo
Veloso.
Por: g1.globo.com
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