Alertas foram dados entre
quatro e dois minutos antes da queda, no interior de São Paulo. Dois minutos
antes do acidente, copiloto relatou que havia 'bastante gelo'. Relatório
preliminar sobre o acidente foi apresentado em coletiva de imprensa na Base
Aérea de Brasília.
Alertas de gelo e de
velocidade baixa piscaram e tocaram no painel do ATR 72-600 da Voepass enquanto
a tripulação se comunicava com o controle de tráfego aéreo, com passageiros e
com uma comissária.
A informação está no
relatório preliminar sobre o acidente, divulgado na sexta-feira (6) pelo
Cenipa. A aeronave caiu em 9 de agosto, matando 62 pessoas.
O relatório aponta que o
copiloto falava com o despachante operacional da Voepass, que estava em solo,
depois de o alarme antigelo ligar e desligar oito vezes.
Às 13h17min20s (menos de
quatro minutos antes de a aeronave perder o controle): o relatório aponta que o
detector de gelo deixou de exibir o sinal de alerta. Nesse momento, o copiloto
estava solicitando informações à comissária a fim de transmiti-las ao
despachante operacional, aponta o relatório.
Às 13h17min32s (menos de
quatro minutos antes de a aeronave perder o controle): o sistema antigelo volta
a exibir um sinal de alerta. Nesse momento, o comandante estava informando os
passageiros sobre as condições e o horário previsto para o pouso em Guarulhos;
Às 13h18min41s (menos de
três minutos antes de a aeronave perder o controle): - a 353 km/h de
velocidade, o alerta de velocidade baixa de cruzeiro foi exibido. O copiloto "estava
terminando de repassar algumas informações ao despacho operacional",
segundo o relatório;
Às 13h18min55s (menos de
três minutos antes de a aeronave perder o controle): um tom de alarme único foi
ouvido na cabine. Simultaneamente, o comandante falava com o controle de
tráfego aéreo;
Às 13h19min28s (menos de
dois minutos antes de a aeronave perder o controle): com 340 km/h de
velocidade, o alerta DEGRADED PERFORMANCE foi exibido, juntamente com um tom de
alarme único. O alarme, segundo o relatório, "foi acionado
concomitantemente com as trocas de mensagem entre o APP-SP [controle de tráfego
aéreo] e a tripulação";
Às 13h21min09s: o controle
da aeronave foi perdido
Um acidente aéreo é
resultante de vários fatores contribuintes, entre os quais o aspecto humano e
de tomada de decisões. O relatório final, ainda sem prazo para divulgação, vai
apurar as razões pelas quais a tripulação não agiu diante dos alertas sonoros e
no painel, entre outros aspectos, e o quanto isso contribuiu para a tragédia.
Um desses itens é a chamada
"consciência situacional", que, segundo a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac), é "caracterizada pela percepção dos elementos no ambiente de
trabalho dentro de um volume de tempo e espaço, a compreensão do significado
desses elementos e a projeção dessa situação em um futuro próximo".
O julgamento de pilotagem
(507 ocorrências), a aplicação de comandos (350 ocorrências) e o processo
decisório (255 ocorrências) são os três maiores fatores contribuintes de
acidentes aéreos no Brasil, segundo o Painel Sipaer, ferramenta do Cenipa que
contabiliza esses casos.
Dois pilotos, um ATR e outro
de Boeing 737-800, disseram ao g1 que a eventual falta de consciência
situacional pela tripulação do Voepass provavelmente será um dos itens levados
em conta pelo Cenipa na investigação.
Alarme disparou
Menos de dois minutos antes
de o ATR 72-600 da Voepass cair em Vinhedo, em 9 de agosto, um alerta na cabine
avisou a tripulação que o gelo prejudicava o desempenho da aeronave, segundo
relatório preliminar do Cenipa divulgado nesta sexta (6).
A situação aconteceu às
13h19min28 segundos. Na ocasião, a caixa-preta aponta que o sinal de
"Degraded Performance" apareceu no painel, junto com um alarme único.
Nessa hora, a tripulação falava com o controle de tráfego aéreo.
Esse alerta era um dos que o
avião dispõe para atuar sob gelo.
A perda de controle do ATR
se deu às 13h21min09, menos de dois minutos depois.
Antigelo
O Centro de Investigação e
Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), vinculado à Força Aérea Brasileira
(FAB), disse nesta sexta-feira (6) que os pilotos do avião da Voepass que caiu
em Vinhedo (SP) no mês passado comentaram problema no sistema antigelo logo no
início do voo.
“O que temos até o momento é
que houve uma fala extraída por meio do cockpit que um dos tripulantes indicava
que havia uma falha no sistema de De-Icing [antigelo0. Isso todavia não foi
confirmado do sistema de dados (FDR)", afirmou o Brigadeiro do Ar Marcelo
Moreno, chefe da Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
O tenente-coronel Paulo
Mendes Fróes, também do Cenipa, apontou o mesmo:
"Os tripulantes
comentam sobre falhas no sistema de boot das asas (os que quebram o
gelo)", afirmou o tenente-coronel.
Segundo Fróes, o copiloto,
dois minutos antes do acidente, relatou "bastante gelo".
"Copiloto comentou
'bastante gelo' dois minutos antes do acidente", disse o tenente-coronel.
A investigação do Cenipa
também descobriu que o sistema antigelo do avião foi acionado algumas vezes
pelos pilotos durante o voo. Mas que, em determinado momento, o avião voou seis
minutos com aviso de gelo sem que o sistema de degelo tenha sido ligado.
Especialistas civis, logo
após o acidente, afirmaram que a formação de gelo no avião pode ter sido um
fator para a queda.
O relatório do Cenipa ainda
não aponta qual foi a causa do acidente. O tenente-coronel explicou que, neste
momento, o que o órgão fez foi analisar os fatos objetivos em relação ao voo.
Ainda não é possível dizer que uma falha levou à queda.
Os pilotos não relataram
emergência em nenhum momento do voo.
Manutenção
O Cenipa disse também que o
avião estava com registros de manutenção atualizados.
O Cenipa divulgou um
relatório preliminar sobre os motivos da queda do avião, que deixou 62 vítimas.
Logo no início da
apresentação, o Cenipa confirmou que o avião tinha as licenças necessárias para
voar.
“Registros técnicos de
manutenção estavam atualizados. A equipe de investigação analisou os registros
técnicos nos dias anteriores ao acidente e verificou que estavam atualizados,
segundos os registros”, disse Fróes.
A aeronave era certificada
para voos em condições de gelo e estava “aeronavegável” segundo os
investigadores.
Ainda de acordo com o
relatório, os pilotos também tinham treinamento específicos para voos em
condições de gelo realizados em simuladores. E que era previsto que o avião
enfrentaria zona de formação de gelo em sua rota.
"Era previsto gelo
severo na rota e previsão de formação de gelo entre 12 mil pés e 21 mil pés.
Essas informações meteorológicas estavam disponíveis via internet", disse
Fróes.
Avião voava sem o 'Pack de
número 1'
Foi verificado que nos
registros de manutenção que antecederam dias antes da decolagem do dia 9,
tinham o item Pack de número 1, inoperante. O item estava inoperante nesses
registros de operação e ele faz parte do sistema pneumático, responsável por
levar ar pressurizado até esse item chamado pack.
Ele tem dois objetivos. A
primeira é a pressurização da aeronave. O controle do fluxo de ar para dentro
da cabine de passageiros e tripulantes. A segunda função desse item é a
climatização da aeronave.
Para um voo para uma das
packs inoperantes, a aeronave tem que voar no máximo a 17 mil pés (o que
ocorreu)
Outra restrição em caso de
uma das packs inoperantes, é que o cálculo de combustível deve ser feito com
base em 10 mil pés e não 17 mil pés ( o que também foi feito)
Objetivos do relatório
preliminar
Segundo o chefe do Cenipa,
brigadeiro Marcelo Moreno, o relatório preliminar não visa apontar culpados ou imputar
responsabilidade criminal. O objetivo do relatório é identificar possíveis
fatores que posam ter contribuído com o acidente e sugerir medidas de
segurança.
“Os dados aqui apresentados
são do que aconteceu nesse acidente. Não vamos entrar na esfera no por que
aconteceu e como aconteceu. Somente dados factuais”, afirmou o tenente coronel
Paulo Mendes Fróes, investigador encarregado do acidente com o avião da
VoePass.
Familiares
Cerca de 70 representantes,
entre familiares e advogados das vítimas, viajaram até a capital federal para
receber informações sobre o caso. Eles foram recebidos pela equipe do Cenipa
antes da coletiva.
O acidente, no dia 9 de
agosto, foi com uma aeronave ATR 72-500 que fazia o voo 2283, entre Cascavel
(PR) e Guarulhos (SP). O veículo caiu em Vinhedo (SP), a cerca de 115km do
destino.
Todas as 62 pessoas que
estavam a bordo, entre passageiros e tripulantes, morreram.
IML já identificou 27 corpos
do avião que caiu em Vinhedo
Este reporte ainda tem
caráter preliminar, e o documento definitivo ainda não tem data para ser
divulgado.
Participam da coletiva o
chefe do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno; o chefe da divisão de Investigação
e Prevenção do órgão, coronel Henrique Baldin; e o investigador encarregado,
tenente-coronel Paulo Mendes Fróes.
Informações preliminares
Antes da divulgação do
relatório, apurações preliminares informaram que o gravador de voz da cabine do
ATR 72-500 registrou conversas do copiloto sobre "dar potência" à
aeronave minutos antes da queda, além de gritos dentro do avião.
As duas horas de transcrição
foram feitas pelo laboratório de leitura e análise de dados do Cenipa.
Segundo os investigadores do
órgão, a análise preliminar dos dados indica que o avião perdeu altitude de
forma repentina. Mas, a análise do áudio da cabine, sozinha, não era o
suficiente para cravar uma causa aparente para a queda.
Investigação da Polícia
Federal
Em paralelo à investigação
do Cenipa, a Polícia Federal (PF) também apura as razões do acidente por meio
de análises dos dados de componentes e caixas-pretas do avião.
A investigação acontece de
forma conjunta entre os dois órgãos. Diferentemente do Cenipa, que apura as
causas para apontar melhorias e evitar futuras tragédias, a investigação da
polícia busca verificar se existem pessoas que devam ser responsabilizadas
criminalmente pela tragédia.
Por isso, a PF vai produzir,
paralelamente ao relatório final do Cenipa, um Laudo de Sinistro Aeronáutico.
Para a produção dele, peritos criminais do Instituto Nacional de Criminalística
vão acompanhar todos os exames, ensaios e testes realizados no Cenipa,
incluindo análise dos destroços, do motor, das caixas pretas e outros.
Segundo a corporação, esse
documento é importante porque traz aspectos técnicos e científicos acerca do
acidente aéreo que, confrontados com testemunhas, podem indicar se atuações
pessoais contribuíram com o acidente.
Fonte: G1
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