Brasil registrou menos de 30 óbitos por ano da doença.
Instituído pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em 2007, o Dia Mundial da Luta Contra a Malária (World
Malaria Day) é lembrado hoje (25). Segundo a pesquisadora Anielle Pina, do
Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional
de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz), houve
uma redução expressiva da doença no Brasil nos últimos anos. De 2019 para 2020,
o número de casos caiu 13%.
“A gente vem em um patamar
de casos muito baixo quando compara com a década passada. Acho que, ano a ano,
a gente vem reduzindo o número de casos, de internações e de óbitos. Eu acho
que isso é uma coisa muito importante”, afirmou Anielle.
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Olhando para gráficos do
início dos anos 2000, vê-se que o Brasil tinha 600 mil casos de malária por volta
de 2004 a 2005, com 21 mil hospitalizações e mais de 200 mortes por malária no
país. Com o passar dos anos, chegou-se a 2015 com menos de 300 hospitalizações.
Hoje, o Brasil registra cerca de 135 mil casos, o que é uma redução
significativa, comentou a pesquisadora. No último ano, foram menos de 30
óbitos.
Anielle comentou que a
malária não vai deixar de ser um problema de saúde pública. É preciso
fortalecer as políticas de diagnóstico, de tratamento e de vigilância dos
casos, mas ela acha que “o Brasil vem respondendo bem. As nossas ações vêm
dando boas respostas.”
Brasil, Venezuela e Colômbia
juntos respondem por 80% dos casos de malária nas Américas. De acordo com dados
do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica-Malária (Sivep-Malária), do
Ministério da Saúde, mesmo com a pandemia em 2020, foram registrados no período
de janeiro a junho 1.049 casos importados de outros países no Brasil, com maior
ocorrência nos estados de Roraima e Amazonas. O país passou seis semanas em
surto.
O Sivep-Malária apontou,
porém, que na maioria das semanas analisadas, o número de casos ficou abaixo do
esperado para o período.
Tramissão
A infectologista do
INI/Fiocruz explicou que a malária é uma doença febril aguda, transmitida pela
fêmea do mosquito do gênero Anopheles. Ela é causada por protozoários
parasitários do gênero Plasmodium.
A maior concentração de
transmissores está nas florestas da Região Amazônica (mais de 98%), envolvendo
Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Maranhão, um pouco de Mato
Grosso e de Tocantins, embora sejam encontrados também transmissores, em menor
quantidade, na Mata Atlântica. No Sudeste do país, é encontrada nos estados do
Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e, na Região Sul, em Santa Catarina.
“Ela é transmitida por
mosquito que esteja infectado por Plasmodium, que é o agente etiológico que
causa malária”. Eles são de três tipos no Brasil que causam malária em seres
humanos: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum e Plasmodium malariae.
Os sintomas mais comuns são
febre, sudorese, calafrios, mal-estar, tonturas, cansaço, vômitos, mialgia e
dores de cabeça intensas. Em casos graves, pode causar icterícia, convulsões,
coma ou morte. Na grande maioria dos casos de malária, ocorre uma febre
periódica a cada 48 horas ou 72 horas, dependendo do agente etiológico que está
causando a infecção.
Anielle Pina garantiu que a
malária é uma doença 100% curável e evitável. A pesquisadora destacou que
existe uma rede de diagnóstico e tratamento gratuitos da doença pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), distribuída por todo o país. “É uma doença com tratamento
e cura”, explicou.
Prevenção
O Ministério da Saúde e as
sociedades brasileiras de Infectologia e de Medicina Tropical não recomendam o
uso de medicamentos preventivos para pessoas que se deslocam para regiões com
presença de mosquitos Anopheles, como no Norte brasileiro, porque a malária que
predomina no país raramente vai evoluir para óbito, disse a pesquisadora do
INI/Fiocruz.
As medidas de precaução
incluem uso de repelentes, preferência por hospedagem em locais que tenham
mosquiteiros, uso de roupas de cor clara que permitem ver o mosquito. ”E quando
o viajante retornar ao seu local de origem, caso tenha algum sintoma que seja
sugestivo de malária, que procure o serviço de saúde e fale que esteve em uma
área endêmica, uma área com transmissão da doença. Essa é a política do
Ministério da Saúde.”
Caso a pessoa vá viajar para
um país africano, Anielle destacou que há procedimentos diferenciados. ”É
preciso avaliar a relação custo/benefício e o tempo da viagem para o local,
para ver se há indicação ou não de fazer a quimioprofilaxia.”
Nesses casos, a orientação é
que o indivíduo procure o serviço de medicina de viagem, que é oferecido em
praticamente todas as universidades e, também, na Fiocruz, de forma gratuita.
Para viagens pelo Brasil, entretanto, não existe indicação de uso preventivo de
drogas antimaláricas, reforçou.
Contágio
A malária não é uma doença
contagiosa. “Precisa da fêmea infectada do mosquito Anopheles para ter
malária”, disse Anielle. Há casos bem raros de transmissão por transfusão de
sangue, compartilhamento de agulhas usadas para injetar drogas, e pela
transmissão materno-fetal. O período de incubação da malária é de cerca de uma
a duas semanas, dependendo da espécie do Plasmodium que foi inoculado.
Guia de tratamento
Em janeiro de 2020, foi
publicado o Guia de tratamento da malária no Brasil, elaborado por Anielle Pina
e outros infectologistas, que é um novo protocolo brasileiro para tratamento de
malária. Para cada espécie parasitária, é necessário um esquema de tratamento.
O Plano Nacional de Saúde (PNS) 2020-2023 tem como meta reduzir para, no máximo, 94 mil o número de casos autóctones de malária até 2023, o que significa queda de 50% em relação a 2018, quando o Brasil teve cerca de 190 mil casos. ”Faz parte dos Objetivos do Milênio da Organização Mundial da Saúde (OMS).”
A Estratégia Técnica Global
para Malária da Organização Mundial da Saúde (OMS) tem como objetivo reduzir em
pelo menos 90% o número dos casos e óbitos no mundo até 2030 em relação a 2015;
eliminar a malária em pelo menos 35 países; e evitar a reintrodução da doença
em países livres da transmissão.
Uma vacina está sendo
testada em projeto piloto nos países africanos de Gana, Quênia e Malauí.
“Existe essa vacina, sim, mas ela ainda não é uma realidade para toda a
sociedade, para todo o mundo. Ela previne casos graves de malária, mas não está
disponível ainda no Brasil, só na África, onde o contexto epidemiológico é
muito diferente do nosso e os casos são mais graves”, esclareceu a
infectologista.
Por Alana Gandra / Agência Brasil.
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