A falta de condições de trabalho associada a situações extenuantes levam os profissionais da educação a um esgotamento quase que total de sua força de trabalho. Em uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação (CNET) até pouco tempo atrás a doença campeã no afastamento de professores eram aquelas relacionadas a voz, onde os docentes eram licenciados de seus cargos para realizar tratamentos vocais, que poderiam durar muito ou pouco tempo dependendo da gravidade da doença.

No entanto, o universo escolar adquiriu novos quadros patológicos. De acordo com um levantamento feito pelo Sindicato de Professores de Alagoas (SINPRO/AL), os casos de afastamento mais recorrentes são aqueles que apelam tanto para os problemas físicos quanto para os psicológicos, muitos deles relacionados a condições de trabalho extremamente perigosas ou síndromes associadas a casos graves de depressão e estresse.

Somente em 2017 foram registradas cerca de 25 denúncias de assédio moral em Alagoas contra apenas 8 do ano anterior, uma situação bastante alarmante, pois mesmo que o número de denúncias tenha triplicado de um ano para o outro os casos subnotificados ainda preocupam o sindicato.

Fernando Sedrim (Diretor do Sinpro/AL) relata que as situações que levam os docentes a se afastar de suas funções têm várias causas que vão desde condições insalubres de trabalho até a síndrome de Burnout bastante conhecida da categoria. Em alguns casos os professores apresentam depressões tão graves que começam a demonstrar tendências suicidas. Para contornar a situação e auxiliar os professores na recuperação de sua saúde mental o Sinpro conta com o NAP- Núcleo de apoio psicológico, onde esses profissionais recebem o auxílio necessário para se reestabelecer mentalmente.

 Mas quando o sonho de ser professor se torna um pesadelo? Quem não se lembra do caso de agressão física a uma professora de Santa Catarina em agosto do ano passado, quando um adolescente de 15 anos a socou no rosto depois que ela chamou sua atenção na sala de aula? Ou da professora de Teresina que além de agressões físicas foi agredida verbalmente por uma adolescente de 16 anos? E aqueles casos onde os pais ameaçam os professores devido ao comportamento de seus filhos?

Em 2013 durante uma pesquisa realizada pelo IBGE no Estado de Alagoas mais de 1.000 professores da rede pública disseram que já foram vítimas ou presenciaram agressões aos profissionais da educação, no ano de 2015 os relatos continuaram crescendo e em 2017 os reflexos da violência das ruas foram evidenciados nas salas de aula.  Somando aos casos que não são denunciados, de uma forma ou de outra os professores são agredidos continuamente, cada um com seus próprios relatos que exibem a indisciplina na sala de aula e falta de comprometimento com os profissionais da educação.

Uma situação leva a outra e as crises emocionais carregadas por essa categoria, chegam a ser maiores que as físicas. Atualmente as redes de ensino se tornaram um lugar onde a educação é menos priorizada do que outras atividades sociais. Por muito tempo se questionou as condições de trabalho dos professores do Estado de Alagoas, que além de lidar com descaso de seus ambientes de trabalho, tem se tornado vítimas frequentes de agressões e assédio.

As sucessões desses eventos levam cada vez mais professores a se ausentar das salas de aula, o lugar que deveria construir uma ponte para o futuro se tornou um cenário onde aqueles que um dia nos deram asas, param de voar. A estudante de pedagogia Denise Mendes destaca uma fase em sua vida acadêmica que o desejo de lecionar se tornou apenas um objetivo depois que ela vivenciou a luta diária de seus professores que se engajavam de diversas formas para passar para ela e seus colegas de classe parte de seu conhecimento e destaca sua preocupação com os problemas contínuos da docência.

 “É preocupante, ainda mais quando seus professores de graduação começam a se afastar por doenças que possivelmente poderiam ser evitadas, a depender da profissão, por trabalharmos fazendo várias coisas ao mesmo tempo e tendo que assumir uma sala de aula, as responsabilidades são enormes, gerando pressão e ansiedade ainda maior. ” Além desses fatores que são atenuantes na execução da docência outras situações comprometem a atuação dos professores no ambiente escolar e social.

Um deles é a síndrome de Burneout ou Síndrome de Desistência como é comumente conhecida. Nessa doença o educador perde a vontade de lecionar e vai de distanciando da profissão aos poucos, em outros casos se destacam as doenças osteomusculares que se agravam quando acontece uma repetição continua de movimentos, mais comum entre os professores que utilizam o quadro como principal auxiliar de seu trabalho.

Para ajudar na conscientização acerca dos transtornos que afastam os professores da sala de aula o Sindicato de Professores de Alagoas em junção com o Ministério Público do Trabalho (MTP) lançaram em maio deste ano a Cartilha sobre a Síndrome de Burnout e Assédio Moral, que visa prevenir e informar sobre as problemáticas em questão.

Em contrapartida a Secretaria do Estado da Educação (Seduc/AL), ressalta que até dezembro de 2017, 95 de seus profissionais estavam fora da sala de aula por causa de licenças médicas, número que representa apenas 1,3% do quadro de docentes da rede estadual de ensino. Apesar de não ter um denominador comum para o afastamento desses profissionais a Secretaria informa que todos os profissionais da rede estadual de Alagoas recebem os devidos acompanhamentos pelo Governo por meio da Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag).

Para se distanciar da realidade obscura que atinge a docência, o Sindicato dos Trabalhadores de Educação de Alagoas (Siteal) criou um Grupo de Saúde do Trabalhador, o grupo tem como principal objetivo apoiar os profissionais que desenvolveram problemas de saúde em decorrência das atividades executadas em escolas de todo Estado.

A professora, que prefere não se identificar, falou sobre os problemas de saúde que ela adquiriu durante a época que lecionou, relatou que os descasos na educação chegam a ser muito maiores quando a categoria não é tratada da forma que merece. “Apesar de ter conseguindo receber o benefício do INSS, eu senti todos os transtornos causados pelo simples ato de lecionar, os gritos, a indisciplina e a falta de respeito com os professores ainda fazem parte da cultura do brasileiro, eles não percebem que a nossa profissão forma as outras, tudo que precisamos é de apoio e respeito e o pior é que quando a gente tenta voltar eles não entendem que estamos doentes", destacou ela.

Por Cada Minuto