Na noite da última
quarta-feira (3), em um bar da zona oeste de São Paulo, o Instituto Lula
promoveu um leilão de 50 lotes de fotos doadas por diferentes fotógrafos
profissionais que registraram imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nas últimas décadas. Cada peça continha o autógrafo do autor da foto e do
próprio ex-presidente.
O evento rendeu ao caixa do
instituto cerca de R$ 624 mil, e o dinheiro arrecadado servirá para tapar
buracos nas finanças do instituto e também capitalizar a defesa do
ex-presidente, que reclama da falta de recursos. Lula está preso desde 7 de
abril de 2018 em um cela especial da Polícia Federal em Curitiba.
O ex-juiz federal Sergio
Moro, que era o responsável pela Operação Lava Jato, bloqueou mais de R$ 600
mil de contas bancárias e cerca de R$ 9 milhões que estavam depositados em dois
planos de previdência privada do ex-presidente. Além do dinheiro, apreendeu
quatro imóveis e dois veículos. Também sofreu bloqueio o espólio da
ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017.
O Instituto Lula vai usar
boa parte do dinheiro obtido no leilão de fotos para pagar uma dívida que tem
com a empresa Lils Palestras, que pertence ao ex-presidente, e que tem custeado
os advogados que o defendem nos processos oriundos da Operação Lava Jato.
"A empresa de palestra
[Lils Palestras] não tem nenhum recurso mais. Todo recurso que ela tinha se
gastou para pagar a defesa do Lula", diz Paulo Okamotto, presidente do
Instituto Lula e sócio minoritário da Lils Palestras (Okamoto tem 2% da empresa,
e Lula, 98%).
"Então a gente está
estudando usar uma parte deste dinheiro [da venda das fotos] para pagar os
advogados e a Lils. Devolver o dinheiro para a Lils do empréstimo que ela tinha
feito para o instituto, para pagar os advogados", completa Okamotto.
Por lei, o Instituto Lula
não pode custear a defesa do ex-presidente, mas sua empresa de palestras, sim.
"A Lils doou bastante dinheiro, uns R$ 700 mil para o Instituto Lula.
Emprestou mais uns R$ 700 mil. Desde que começou a Lava Jato o instituto começou
a ter mais dificuldade para arrecadar [com empresários]".
Advogados de Lula disseram à
reportagem que estão com dificuldades para exercer a defesa do petista, desde o
bloqueio das contas e dos bens do ex-presidente, decretado por Moro no início
de 2018.
Falta dinheiro para custear
deslocamentos (Lula responde a processos em Curitiba e Brasília, além de São
Paulo, onde ficam os advogados) e até para contratar pareceristas. Recentemente
os juristas Lenio Streck e Geraldo Prado fizeram pareceres para Lula, mas de
graça.
O escritório de advocacia
também mantinha uma página na internet para divulgar as posições da defesa de
Lula sobre os andamentos da Lava Jato, um canal de resposta às divulgações
feitas pela força tarefa da Lava Jato. Sem verba, o contrato com a equipe de
quatro pessoas que cuidava do site foi rescindido.
Segundo Okamotto, Lula já
gastou de R$ 4 milhões ou R$ 5 milhões em sua defesa.
Com o estrangulamento
financeiro o Instituto Lula precisou se readequar ao novo momento.
"Demitimos gente", diz Okamotto. Segundo o presidente do instituto,
houve cortes de pessoas na faxina, na manutenção e também na direção do
instituto.
Petistas que acompanharam
Lula desde a fundação do PT e que exerciam cargos remunerados na direção da
instituição foram desligados, caso de Clara Ant, que cuidava da agenda e de
subsídios, Luiz Dulci, que tratava de movimentos sociais, e Paulo Vanucchi, que
fazia ações na área de direitos humanos.
Hoje eles só atuam de
maneira voluntária e esporadicamente, segundo Okamotto. O salário de um diretor
do Instituto Lula era de cerca de R$ 20 mil.
Com o instituto e a empresa
de palestras sem dinheiro, sobrou para o PT bancar um auxiliar para Lula em
Curitiba. Um funcionário do partido, chamado Marco Aurélio, mudou-se para para
a capital paranaense para dar suporte às necessidades do ex-presidente.
A principal função do
petista é receber emails de familiares, amigos e correligionários do petista,
imprimir e levar para os dois advogados visitam Lula diariamente. Eles entregam
para o ex-presidente, que responde em cartas escritas à mão. Esses manuscritos,
então, são levados para Marco Aurélio, que tira uma cópia e envia por email
para os destinatários.
Além de Marco Aurélio, Lula
tem quatro seguranças que se revezam em tarefas básicas como compra de
materiais de higiene, roupa e alimentos para o petista, além de escoltar a
família durante a visita. Por lei, todos os ex-presidentes têm direito a esses
quatro seguranças, além de dois motoristas, dois carros oficiais à disposição e
dois assessores.
A Folha de S.Paulo revelou
que o governo federal desembolsa cerca de R$ 50 mil mensais em salários há
quase um ano para custear a assessoria e a segurança do ex-presidente Lula,
mesmo ele estando preso em Curitiba.
O benefício de Lula chegou a
ser cassado um mês após a prisão por decisão de um juiz federal de Campinas
(SP). A defesa do petista recorreu e o TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª
Região) restabeleceu o direito do ex-presidente a ter os assessores.
Segundo os advogados, entre
as funções dos seguranças de Lula está a de catalogar as mais de 30 mil cartas
que o ex-presidente recebeu desde que foi preso. Boa parte das correspondências
chega até Lula na prisão. O ex-presidente também recebe presente de admiradores.
O material foi enviado para
um grupo de professores, estudantes e pesquisadores de universidades europeias,
liderados pela historiadora francesa Maud Chirio, professora da Universidade de
Marne La Vallée e doutora pela Universidade Paris I, que prepara o lançamento
de um site com essas cartas traduzidas para o inglês, italiano, francês e
espanhol.
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